INFIDELIDADE ATÉ
CERTO PONTO.
Claudio Alecrim Costa
Quase vergado num armário minúsculo, onde o escuro cegava até a imaginação, me esforçava para não fazer barulho, embora meu coração disparava inditoso, sob vestidos e paletós cúmplices e silentes.
Repetia mentalmente para mim mesmo que fora um erro cair na fajuta sedução daquela mulher. Mas não era difícil, já que a vadia carregava um buzanfã enorme se comparado com o quarto-e-sala que um corretor de reputação comercial duvidosa havia me vendido.
Agora a tal mulher discutia com o marido, inesperada visita, se ignorado o fato dele morar onde eu me divertia.
- Você é uma mulher vulgar!
- Quem é você para dizer tal coisa?
- Essas paredes falam por mim...
- O que está insinuando?
- Pensa que só eu sei?
- Sabe o quê?
Ela complicava a situação. Bancava a pura e estava definitivamente manchada como uma roupa nas mãos criteriosas de uma empregada.
- Toda vizinhança sabe que está trazendo homens para dentro de casa...
- Ninguém tem nada a ver como a minha vida. Não devia dar ouvidos a qualquer um.
- Você tem se comportado como mulher sem moral!
- E você?
Um silêncio se instalou e tornou as coisas ainda mais difíceis para mim, que começava a sentir uma coceira no nariz, provável alergia a todo tipo de tecido igualmente enfiado como eu naquele armário.
- O que está dizendo?
- Sua secretária...
- Não tente um golpe baixo. Já sou corno e isso me basta.
- Posso dizer o mesmo.
- Defende-se usando o próprio pecado.
- Virou um santo agora...
- Estamos discutindo a sua galinhagem!
- Olha como fala!
Depois de um barulho que parecia sapatos espatifando-se na parede, a porta do armário se abriu num surto que me deixo como um padreco em confessionário nada religioso.
- Peguei! Quem é você seu estropício?
Um estranho no armário errado não haveria de ser um guarda-chuva.
- Não sei como dizer...
- Dizer o quê, caradura?
- A culpa não é toda dela...
- Perdeu de vez o juízo!
- Não perdeu o seu quando viu pela primeira vez aquele traseiro?
Olhou para o teto pensativo e bateu a porta em minha cara. Escutei a voz do homem...
- Tire a roupa e vire devagar...
- Pra quê?
- Preciso confirmar se eu também sou
culpado...
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