A
BRASÍLIA
Argento
Lembro-me como se fosse hoje, tinha na época dezesseis anos de idade. Muitos sonhos e a cabeça despreocupada dos que são livres, totalmente desprovidos de responsabilidades, mente aberta de um tocador de violão e quase poeta. Bom, pelo menos era assim que eu me via. Numa tarde de sábado, meu pai havia saído para o clube ao lado, pra fazer uma sauna, iria relaxar e esquecer dos problemas daquela estressante semana de trabalho. Ledo engano, ele nem imaginava o que estava por vir: Não sabia que sua garagem abrigava uma Brasília bege (quase amarela devido ao desgaste do tempo) e que a dita cuja tinha mania de alpinista. Antes que vocês pensem que estou aqui criticando o brilhante automóvel, vai aqui um pedacinho da homenagem dos mamonas assassinas: "Minha Brasília amarela, ta de portas abertas, pra modo a gente se amar..." Mas, vamos deixar de lero-lero e voltar ao que interessa realmente. Peguei a chave escondido, decidido a pilotar o carango do velho, detalhe: Esse rapazinho simpático que está agora tentando narrar-lhes essa bela aventura sobre quatro rodas nunca tinha sequer tentado ligar um carro. Tudo o que eu sabia sobre dirigir se resumia a observações que fazia sobre meu pai, ao comando do automóvel. Cheio de coragem, peguei a chave, abri o maravilhoso carro dos meus sonhos. Em minha cabeça passava uma mistura de anseio com um grito de liberdade agarrado na garganta, pois via meus colegas de colégio ganharem todas as menininhas e o bobalhão aqui, ficava sempre a ver navios. Eu tinha a sensação de que se dirigisse, iria conquistar todas os brotinhos da escola, que tolice! Virei a chave então e aconteceu o inesperado: O carro deu um pinote e encaixou-se no muro da frente da garagem, feito um filme antigo do Jerry Lewis. Abandonei a festa correndo e fui fazer uma confissão crime pro meu coroa. - Pai? - Oi, fala meu filho! - Não sei como lhe dizer... - Desembucha logo filho! - Carro é inseto? - Não, por que meu filho? - Então corre logo lá pra casa que o nosso automóvel tá com síndrome de lagartixa!!! - Uai.. Não entendi? - Ele ta tentando subir pelas paredes... Por isso que eu digo e repito: "O tamanho do prazer de dirigir a primeira vez, sem experiência, sem aula e sem habilitação é inversamente proporcional ao prejuízo causado pelo cateto da hipotenusa elevado a enésima potência". |