A MENINA LUA
Patricia Lopes
Parece que a
mãe adivinhou quando escolheu o nome.
- Se for menina
vai ser Lua.
- E Lua lá é
nome de gente?
- Ah, mas vai
ter que ser.
Foi mesmo. E
Lua nasceu assim, crescente, minguante, nova, cheia de
humores. Tinha um jeito pra cada coisa, mil coisas pra cada pessoa, um
sentimento pra cada dia e um hoje tão diferente de ontem, que encontrar com ela
podia ser uma exclamação, uma interrogação, umas reticências, ou um ponto final
bem seco.
Lua era assim,
isto e aquilo, um monte de coisas. E a cidade, que nunca tinha visto tantas
cores numa pessoa só, se confundia toda pra falar dela:
- Essa menina é
o diabo!
- Não é mesmo
um anjinho?
- Bagunceira
que só ela...
- Nunca vi mais
ordenada!
Lua era egoísta
e distante. Queria brincar sozinha e gostava quando todo mundo olhava só pra
ela. Lua era generosa e dividia seus suspiros, histórias e quindins com as
outras crianças. Lua fazia barulho
quando queria-porque-queria.
Lua deixava todo mundo mudo de tão linda que ela era. Lua parecia pequena, mas era enorme:
- Lua, hora de
dormir!
E Lua passava a
noite em claro.
- Lua, já pra
dentro!
E Lua ficava lá
fora, rindo de quem achasse que as coisas eram sérias e para sempre.
Lua era tão
fascinante que, quando ela aparecia, sua xará se escondia. E fazia um sol de
rachar.
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