FEITIÇO
Ly Sabas
O jardim bem
cuidado, com a iluminação estrategicamente disfarçada entre as folhagens, era o
cenário impecável para o que pretendia fazer. A noite estava perfeita, a fase da
lua era a esperada e havia poucas estrelas no céu. Estava sozinha na casa
silenciosa. Preparou um banho tépido com pétalas de flores do campo, acendeu
uma vela rosa em formato de coração e um incenso de alfazema. Banhou-se
lentamente, entoando um mantra. Escolheu um vestido vaporoso, branco, que caia em cascatas até os pés
descalços. Domesticou os cabelos rebeldes com uma tiara de pequeninas
flores. Estava pronta.
Desceu até a
cozinha, apanhou uma cesta já preparada em cima da mesa com tudo o que seria necessário.
Atravessou a sala, a varanda e caminhou, quase flutuando, até um círculo,
formado por grandes pedras brancas, no meio do gramado. Sentou no chão com as
pernas cruzadas, colocou a cesta do lado direito e fez uma pequena prece.
Retirou da cesta três quartzos rosas, três velas rosas, um
quadrado de pano branco, um prato de porcelana virgem, duas rosas vermelhas, um
garrafinha de champanhe, um vidro pequeno de mel, uma maçã, uma fita branca, um
coração de cera e duas alianças. No fundo da cesta encontrou uma tira de papel,
um lápis preto, uma faquinha e um borrifador
de perfume. Escreveu, intercalando, os nomes dos dois sete vezes, borrifou com
almíscar e sorriu feliz.
A lua nova, um
risco brilhante no céu sem nuvens, era a testemunha obrigatória para o ritual
que preparava com carinho e fé. Primeiramente fez um triângulo com as pedras,
forrou o chão no meio com o pano e colocou o prato em cima. Pegou o coração,
colocou a tira de papel dentro, cobriu com mel. Com a fita amarrou uma na outra
as alianças. Depois preparou a maçã, retirando com a ajuda da faca uma pequena
tampa, introduziu as alianças e cobriu com o champanhe. Arrumou a fruta e o
coração no meio do prato. Em seguida, com cuidado, despetalou
as rosas, deixando as pétalas caírem harmoniosamente sobre tudo. Faltava apenas
acender as velas em um triângulo, ao contrário do outro de pedras, formando uma
estrela de seis pontas. Recitou as palavras que finalizavam o feitiço,
levantou-se, recolheu a cesta e voltou flutuando em seu vestido diáfano para o
quarto. Agora só precisaria esperar. O resultado chegaria junto com a lua
cheia.
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