MORAL À MÍNGUA
Eduardo Prearo

... formas muito piores de mentira
- quando o homem não sabe que mente.

P. Ouspensky

 

Algumas nuvens na noite, brancas. Pudera ter deixado meus versos guardados numa gaveta, como a maioria. Não sou poeta; não tenho versos nem gavetas. Nuvens estilizadas, ventos que as aproximam de mim. Crisântemos arrancados, flagrante; crisântemos no colo, fragrantes. Roxo-claros, agora num receptáculo vítreo, verde, objetos de culpa. A lua é toda luz que tenho; toda luz que tenho é a lua. Raio dela clareando as chaves; abro o baú, está vazio. Escrevo algo em qualquer parede, um slogan. Bocejo. O sono não vem? Palavrões soltos no silêncio; eles ecoam. O que vão pensar ou perguntar? Alguém com mais falta de tempo ainda, depois disso. Então esmoreço com nojo da mascarra refletida, velha. São quatro, deixo o café ali coando; depois das nove ninguém é indulgente. Mas sim, para esse caso há a justificativa 499. Sou lua minguante, um debilóide. E também moleque, e também vadio, e também profano, e também nazista depravado. Que horror! Além-ator, além-mar, além-marginal. A barriga e as panelas. A inspiração, outra adiposa. Não vou mais proceder com isso, não vou. Não valho nada. Lá estou eu pequenino, andando por um deserto agora maquete. É, meu amigo, ainda falta muito para você chegar ao Oásis.

 

fale com o autor

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.