MORTE EM MARTE
Rosi Luna

Este é um bilhete suicida. Não quero mais viver nesse planeta chamado Terra. Atenção seres intergaláticos, me chamem um disco voador pelo computador. Daqui a pouco não vou estar mais respirando. Vou sentir falta do arfar amoroso . Desse afago intravenoso. Do meu amor tão dengoso. Vai imaginando uma estátua petrificada feminina. Como vou morrer? Falar que estou com uma doença incurável. Acho melhor ter um aneurisma. Pular da ponte não vale. Acho que ele não vai acreditar. E como escrevo que desisto de viver porque está tudo sem graça? Os livros estão cheios de traça. E minhas pernas são tão compridas, parecem uma garça. Será que cabe no caixão? Penso que vou conversar com um formigão. Antes que me devore, me fale dos formigueiros. Me ensine a levar uma folha nas costas. Tantas folhas pelo chão. Tá me dando uma emoção. Não me deixe morrer não. Só faço confusão.


Esse é um bilhete de mulher vivida. Quero viver nessa bola giratória chamada Mundo. Atenção seres homo sapiens, me chamem um jato pelo rádio amador. Daqui a pouco vou estar voando e amando. Vou sentir a vida pulsar e bebericar. Desse trago na mesa do bar. Do meu amor tão âmbar. Vai imaginando uma libélula dançando de sa ia muito fina. Como vou viver? Será que falar que estou com um poema incurável? Acho melhor ter uma crônica. Pular letra não vale. Acho que ele vai acreditar. E escrevo que insisto em viver porque está tudo colorido. Os meus ouvidos estão entupidos de cupidos. E meus seios ficaram cheios de anseios. Será que cabe no sutiã? Penso em conversar com um caramujo. Antes que se esconda, me fale da concha. Me ensine a levar uma casa nas costas. Tantas joaninhas pelo chão. Tá me dando uma danação. Não me deixe viver assim. Só quero você - Serafim.


Esse é um bilhete duvidoso. Não quero viver aqui ou acolá, na Ásia ou no Pará. Atenção rastreadores, me chamem a sinalização, esse lugar não está no mapa. Daqui a pouco vou estar na corda bamba ou na roda dançando um samba. Como vou saber se vou viver ou morrer? Será que amanhã compro um colete salva-vidas pra não me afogar em mágoas? Ou compro uma bota, com fio na tomada, para me ajudar a chegar perto do meu amor e morrer de choque elétrico? Penso em colocar um chapéu giratório para as idéias andarem contra o vento. Meu alento é amar assim por trás das letras, e que nunca meu amor mude pra outro planeta. Só vivo na estação te esperando e fora de rotação te desejando.


Esse é um bilhete apaixonado. Não sei se foi uma morte em Marte ou sexo em Saturno. Atenção poetas românticos de outras eras e galáxias, me façam uma rima fácil. Daqui a pouco vou virar epitáfio. Vou fazer versos brancos. Meu amor era de gêlo e se quebrou. Foi quente e se acabou. Vai imaginando que queria você me amando. Como vou me apaixonar? Será que se falar que estou com um corpo em chamas incurável? Acho melhor ficar enamorada. Pular versos não vale. Acho que tá frio, fahrenheit 32, preciso tomar um birinaite. Preciso subir a temperatura, subir num salto pra aumentar a estatura. Quem sabe ele me vê. E conclamo que meu amor não tem cor nem credo, nem distância, muito menos idade. É amor da maturidade e meus verso s declamo. A beleza do amor está na clareza com que me exponho. Desejo não é enfadonho. Quebro parágrafo, perco vírgulas mas te encho de um gozo de exclamações. Antes que caia de quatro, me deixa desfalecer. Quero amanhecer com você imortal. Vestida de avental; não importa. Só seria uma sinfonia de meteoros, se eu pudesse ler teus olhos.

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