SAUDADE: A IMORTAL
Regina de Souza
Saudade: ela sim é imortal, porque as pessoas merecedoras de minha saudade foram tão mortais quanto eu serei enquanto estiver viva.
Nutro sentimentos desse tipo por muitas pessoas queridas e já ausentes e, apesa r da vontade que tenho de tê-las de novo por perto, jamais voltarão à vida e para isso não há remédio: elas foram meras mortais. As lembranças voltam, vivas, quando algum acontecimento me remete ao tempo em que ainda por aqui circulavam, me enchendo de prazer e aumentando em mim o gosto pela vida.
E meus queridos foram tantos! Meu pai, o perdido na estrada (*), minha tia-avó, a graça em pessoa, tio Paulo, nosso papai-noel traquina (**) e meus tios todos. Aliás, fui premiada. Nasci entre pessoas bem humoradas e interessantes que arrancavam riso e bem estar de quem quer que fosse.
Meus amores também. Se eu juntasse todos, formaria um bom arsenal de positivismo. Os negativistas deixei pelo caminho, sem elo nenhum para contar histórias.
Meus ídolos são a exceção. Cássia Eller, por exemplo -em minha opinião a mais expressiva intérprete da MPB- era um baú de surpresas. Do inicio de sua carreira até sua morte prematura, provocou reações das mais variadas e m tantos quantos fizeram contato com sua arte. Levou a vida bem do jeito que preferiu, não se importando com o efeito que causava nas pessoas. Chocou, surpreendeu, fez rir, chorar e retirou-se, também surpreendentemente.
Assim também foi Cazuza-meteoro, sonoro, brilhante e cheio de farpas, me atingindo em cheio o coração e a alma, partindo rápido de volta ao Universo.
E Gonzaguinha, Vinícius que adoro interpretar e
ouvir, e Joseph Campbell tão fantástico para se ler e pensar,
Frida Kallo que adoro em tudo, Tarsila maravilhosa e tantos outros que se foram
deixando a SAUDADE. Essa sim, é IMORTAL.
(*) 25.04.2003 - Tema Perdido na estrada: Perdido na estrada
(**)19.12.2003 - Tema livre: Tio Paulo
Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.