IMORTAL
Leila de Barros

 

Houve uma vez um tempo de efemeridades.

O concreto escorria pelas sarjetas e os sentimentos eram moldados nas formas e nos baldrames.


Os sorrisos, outrora de arlequins, assemelhavam-se ao sorriso do C uringa, aquele do Batman, mesmo! Ou seriam espasmos?


Tempos bicudos, fossemos nós de esquerda ou de algum canto qualquer.


Purpurinas, trajes dourados formavam a segunda pele e a primeira era sempre muito bem lavada com sabonetes de celebridades.


A alma, toda encolhida – quando havia uma - ficava no fundo
do armário, esperando, no cabide dos roupões.


As pessoas devoravam cyberbiscoitos, cyberemoções, cybersexo, cybertudo. Não havia tempo há perder, não havia tempo para deglutir, sentir...


Andavam separadas da cabeça e da alma, carregando pastas e ingressos para o Hopi Hari. Era um frenesi patético em todas as megafestas, nos megaeventos, nos megahipermercados.


Tudo era muito rápido, segundos contavam nessa corrida contra a perda de tempo.


Se o trem passasse lento pelas paisagens, as pessoas desejavam saltar dele em busca de tesouros perdidos.


Tempos de chats, chatos, efêmeros e muros d e concreto. As pessoas acordavam antes do sol, mas sorriam muito pouco e na mesma casa, perdiam-se em suas mesmices e solidão a dois, três, quatro.


O concreto a que me refiro não comportava um vão livre como o do Masp nem os desenhos de um arquiteto famoso. Era areia, pedra e água, massa selvagem, veloz e agressiva que seguia como numa enxurrada, moldando tudo, sem dar tempo para salvar os jardins.


Mas, isso foi há muito tempo, em 2048, época de webmania, Blade Runner, máquinas e muita pressa.


Hoje, alguns arquitetos, executam um urbanismo mais lento e ajardinado, copiam Burle Max com toques de arte de Tomie Otake. Um pouco do Oriente e um pouco de todas as plantas e flores exóticas de todos os planetas está sendo buscado para eternizar todos os quintais e jardins.


As pessoas voltaram a morar em casas sem muros.


Atualmente, não há mais pressa, o amor pode ser sentido assim, com vagar, os trens voltaram a circular com len tidão, para que possamos viajar apreciando os rios e as almas lentamente.


Todos o humanos voltaram a ser imortais.


 

fale com a autora

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.