NO PRINCÍPIO
Flora Rodrigues
Serei para sempre aquela que sempre foi e será imortal. Derrotei reis e rainhas. Fui a causa de traições. Fiz cair impérios. Uni pessoas, separei-as. Casei-as pelo poder da minha força. Pelo mesmo poder as separei. Iludi multidões. Criei e gerei nações. Fui a causa de muitas discussões. O ponto de partida para muitas guerras. A salvação de muitas terras. Sou a morte e a salvação de muitos.
Sou a memória que não ficou perdida, que passou de boca em boca, de gerações em gerações. Sou a História que não ficou por contar. O poema, a trova de encantar. A serenata que os apaixonados cantam ao luar. Sou fábrica de ilusões, de contos de encantar.
Fui carrasco na voz de ditadores, Imperadores, Usurpadores. Fui rainha na voz de profetas que por mim e através de mim conquistaram multidões.
Fui a sorte de uns e o azar de outros. Sou para muitos doces recordações e para outros amargas ilusões.
Sou conquista na voz de crianças e armadilha na voz de alguns adultos. Sou arma invencível. Sou espada inquebrável, sou força indomável, sou veneno letal.
Sou fatal. Sou morte. Sou Vida.
Sou eu e apenas eu verdadeiramente imortal, mesmo antes do princípio, era apenas eu a Palavra que existia.
Afinal diz quem sabe: no princípio era o Verbo.
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