ESPELHO
Nilda Brandão
Ela respirou... profundamente. Abriu os olhos
e encarou seu maior inimigo: o espelho. Afinal, quão ruim poderia ser isso?
Olhar-se no espelho era algo natural, tão natural que ela se quer notava que o
fazia, olhava para ver se o cabelo estava em ordem, se a roupa estava arrumada,
se o conjunto todo estava apresentável.
Dessa vez ela queria olhar e ver ela mesma.
Ela tinha medo do espelho. Ele sempre mostrava seus defeitos, suas imperfeições.
Anos que ela simplesmente não tinha mais coragem de olhar esse inimigo implacável
que dizia a ela o quanto era imperfeita, feia. Por que encara-lo agora? Ela não
sabia, só queria. Tinha vontade de ver-se uma vez na vida. Fechou os olhos e se
postou diante do espelho, respirou, e abriu os
olhos.
A primeira coisa que viu foi um defeito: rugas. Corajosamente continuou vendo, e
percebeu que além das rugas em volta dos olhos, havia os olhos, e que olhos
lindos! Olhos de alguém que já viveu muito, já travou muitas batalhas, ganhou
algumas, perdeu outras tantas, mas no final saíra viva, fortalecida e mais
feliz.
Encantada com essa descoberta, continuou olhando-se no espelho, travando sua
batalha intima contra seu pior inimigo, o espelho, não se dando por vencido,
continuava a mostra-lhe seus defeitos, defeitos esses que ela logo via como
virtude, como cicatriz de heroína. E foi como heroína que ela mais uma vez se
vestiu, e dessa vez, se vestiu para realçar os pontos bonitos e
interessantes que havia recém descobertos. Se olhou no espelho mais uma vez
e dessa vez aprovou o que viu. o espelho bem que tentou mostrar algum
defeito, mas parou, vencido.
Ela sorriu. Vencera a batalha. Respirou fundo mais uma vez... e saiu para a rua.
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