O SILÊNCIO
Márcio Benjamin Costa Ribeiro
Ninguém ouviu o barulho da pedra caindo na água.
Ninguém que pudesse ajudar. A mulher só acordou quando sentiu
o peso em sua perna. Não sabia o q ue a estava puxando pra baixo. A água
entrava em seus ouvidos, em sua boca. Agitava os braços em busca de uma
ajuda improvável. Mas o peso amarrado à corrente era muito mais
forte do que sua vontade. Agitou os braços com força para todos
os lados. O peso bateu rapidamente no fundo, arrastando-a. Nadou em busca de
ar, mas a corrente estava firme. Agarrou com força o calcanhar e tentou,
pateticamente, quebrar os elos. Abriu a boca para gritar, o que serviu apenas
para aumentar a dose de água nos seus pulmões. Esgotada, deixou-se
boiar um pouco. Talvez a corrente fosse grande o suficiente para que ela respirasse.
Lembrou-se que a pedra não demorou muito para chegar ao fundo e tentou
nadar para o alto. Reuniu o restante de suas forças e esticou-se o mais
que pôde, conseguindo colocar os lábios quase rentes à superfície.
Os pulmões doeram com o ar que entrava. Procurou esticar-se mais e mais.
Contudo, a força utilizada foi exagerada e ela não sentia sua
perna. A água entrou rápid o em sua boca. Rápido demais.
A mulher acordou gritando. Sentou-se na cama empurrando o lençol. Procurou
retomar o ar. Acalmou-se ao reconhecer o quarto. A lua enorme iluminava a rua.
Levantou-se, mas sorriu quando pensou em tomar um pouco de água. Decidiu
que apenas o ar seria suficiente para que ela se acalmasse. Deu um leve salto
com o barulho do telefone.
Eu estou bem. Apenas um pouco assustada. Um pesadelo. Besteira. Dar uma volta?
É. Uma boa sim. Na verdade uma ótima. Tá tarde, mas eu
posso descer pela janela. Você tem cada idéia. Mas será
que não tem problema? Tá bem. Posso levar o biquíni sim...
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