|
|
MINI-CONTOS
DE NATAL 2003
todos os mini-contos do mini-concurso para a mini-mensagem de natal dos
macros-anjos de prata
|
|
CONTO
DE NATAL Alberto Carmo A
família reunida reparte pães e bênçãos. Nas ruas ninguém ao desabrigo. Em cada
casa, crianças abrem presentes, adultos trocam sorrisos. Festas humildes
e festas de pompa. Casas onde a ceia é simples, outras onde os pratos se multiplicam.
Em nenhuma a mesa, ou a alma, vazia. Nas mansões, governantes e empresários,
juízes e doutores, repartem a riqueza ponderada. Nos lares menos
providos, a mesa suficiente, as bocas saciadas e os corações plenos de esperança
pela primeira vez. No céu, o horizonte acorda e espera o amanhecer de
um mundo novo. O ano... Bem, cabe a nós desenhar cada número que vai
formar esse dia glorioso. Feliz Natal! |
|
PEDIDO
DE NATAL Ana Peluso Sabe,
Papai Noel, nesse natal, eu queria - de verdade - que as pessoas pensassem mais
nelas mesmas do que em mim. Que fossem até suas casas e se abraçassem e depois
aos seus, sem medo de disfarce, cara feia por trás das costas, diz-que-disse no
canto da sala; e que não se presenteassem tanto com coisas que não podem carregar
para sempre (e que não fazem delas pessoas mais felizes). E que
se fizessem orações, que fosse para - antes de tudo - perdoarem-se; e que não
me olhassem apenas porquê sou uma criança e é meu aniversário, mas por terem vindo
até mim, depois de se aceitarem como são; e que usassem do instrumento mais poderoso
que existe, que é a compreensão - caso não conseguissem. Depois
queria que brindassem com o néctar do espírito, que é o amor, olhando-se nos olhos
e sendo verdadeiras. Após a ceia, elas poderiam cantar e dançar em louvor ao meu
Pai, de mãos dadas, e só se separariam quando voltassem aos seus templos que é
dentro delas mesmas, e é a verdadeira morada onde Ele habita. E seria
lá, que mais tarde, passado mais um ano de vida, eu buscaria meus presentes: corações
puros, porém fortes, porquê o amor fortalece e a verdade purifica. Almas em paz
pela certeza de que nenhum olhar foi esquivo ou superposto. Espíritos ressonando
alegria pela descoberta da certeza de que a vida se eleva, nunca cai.
E semblantes tranqüilos de quem já descobriu a verdade. Ela é nela que EU
SOU. Ass: Menino Jesus |
|
LEMBRANÇAS
DE NATAL Argento Lembranças
antigas de natal, sonhos, fantasias de criança. Passar a noite sem dormir,
esperando Papai Noel chegar. Belas cantigas, noite magistral, que
sempre nos traz paz e esperança, e que nos ensina a dividir, a espalhar
o bem sem hesitar. E você que está aí escondido, que fechou os ouvidos
as dores do mundo, pra qualquer ruído, do povo sofrido, cheio de dor.
Deixe a magia te levar amigo, abra esse seu coração por um só segundo.
Dê uma ajuda, um abrigo e verás todo poder do amor. |
|
A
MAGIA DO NATAL Argento "Lembranças
antigas de natal, sonhos, fantasias de criança. Passar a noite sem dormir,
esperando Papai Noel chegar." Todo
ano a magia se renovava. A vila inteira esperava com um misto de apreensão e alegria
a chegada dele. Aquilo era na verdade um espetáculo único, os olhos das crianças
brilhavam e todos aguardavam ansiosos a chegada do bom velhinho. Mal
ele surgia no início da rua e a molecada ficava eufórica, ele trazia os presentes,
um sorriso e principalmente aquelas palavras de sabedoria. Todos agradeciam e
prometiam que iam se comportar melhor no ano seguinte, que iam respeitar os país,
os avós e tratar seus irmãos e amigos com carinho evitando brigas e confusões.
Num certo dia porém, aconteceu o inesperado. Quando nosso bravo Papai Noel
foi conversar com uma garotinha linda de três anos de idade: - Oi, menininha.
Você se comportou direitinho esse ano? - Sim, cadê minha boneca de pano papai?
- Papai Noel trouxe ela sim, ta aqui! - Papai Noel que nada! Você é o meu
pai! - Quê isso? Sou o Papai Noel em carne e osso! - Então chega aqui
pertinho de mim, vai! - Num falei, você ta usando os óculos do papai e essa
barba falsa! Puxou a barba do bom velhinho que ficou desconcertado. No
final os dois se abraçaram, choraram e sorriram juntos. A magia, não
foi porém quebrada. Aquele bom homem ainda passou vários natais se vestindo naquele
traje especial, transmitindo amor e paz pelos corações daquelas privilegiadas
crianças. (*)
Em memória do meu tio Armando, o melhor "Papai Noel" que já tive. |
|
NATAL
OUTRA VEZ Bárbara Helena Sei
que é Natal porque sinto o cheiro das castanhas assadas na varanda da memória.
Passam carros ao longe, carruagens, carroças, foguetes. Posso ouvir o
sussurro das folhas do pinheiro. E as pessoas que cantam, o som agudo das flautas
infantis. De longe vem o cheiro de canela das rabanadas, do vinho, da champanhe
estourando em torno de mim. Sim. É Natal outra vez. Então, eu
atravesso a sala com meu vestido de lua, pego sua mão que me enlaça e me estreita,
beijo sua boca de mistérios. Dançamos o Natal, as festas, o Ano Novo.
Dançamos a esperança. Somos todos os reis, os bispos, as rainhas.
Somos todos peões da nossa fantasia. É Natal outra vez, ainda. |
|
ENCOMENDA
ERRADA Beto Muniz Pediu
um cachorro pro papai Noel. Enviou cartinha para o pólo norte e teve
o zelo de procurar envelope impermeável, apesar do cuidado em utilizar caneta
com tinta especial: "sabe-se lá se as cartinhas não ficam úmidas com aquele tantão
de neve". Nas vésperas do natal estava feliz, primeira confraternização
em seu primeiro emprego. Recepcionista, mas só fazia atender ao telefone: "não
importa, todos começam por baixo e vão crescendo". Só ela não crescia, permanecia
menina no corpo de mulher, e foi na festa, brindando com os colegas, que descobriu
o olhar faminto de Aristeu, cão sem dono. A cartinha chegara intacta
às mãos do Papai Noel. Nenhum borrão nas letrinhas redondinhas de menina-moça.
Uma pena. |
|
CONTINHO
DE NATAL Daisy Melo Solidão
é coisa conhecida e ela está sozinha a maior parte do tempo. Mas arruma
a árvore com aqueles enfeites de quando as crianças eram pequenas e prepara a
ceia. Veste o vestido vermelho que usou naquele dia especial, há tanto
tempo. Perfuma o pescoço, coloca o brinco, se olha no espelho. Está linda.
Enquanto espera os filhos e os netos, escreve uma poesia e faz um pedido
para a estrela cadente que passa veloz através da sua noite: só deseja paz.
Todo o resto que precisa virá finalmente, com esse Natal diferente. |
|
CARTA
PARA PAPAI NOEL Emília Maria Martins
Lopes
“Querido Papai Noel Não quero nada para mim, mas gostaria que realizasse
um desejo. Não sei se é possível. Já me disseram que é besteira, que estou sonhando,
mas mesmo assim vou tentar: Queria que no mundo houvesse uma coisa especial
porque acredito que com isso as pessoas não brigariam, não passariam fome, não
roubariam, não matariam, não discutiriam e, principalmente, voltariam a sonhar.
Só peço para que haja, entre todas as pessoas, mais Respeito. Se
puder me atender, eu agradeço do fundo do meu coração. Acredito
que de ilusão também se vive. |
|
PRESENTE
DE NATAL Ivone Carvalho Esperava
o bebê para o final do mês. Como toda mãezinha, aguardava com ansiedade sua chegada,
mas estava feliz por saber que passaria o Natal com a família, como todos os anos.
Preparou a festa, decorou a casa, colocou os presentes sob a árvore, arrumou
a mesa com pratos deliciosos. Vestiu-se e recebeu os convidados. A família toda
reunida, música alegre, risos, fotos. Uma contração. Duas, muitas. Foi levada
para a maternidade. À meia noite, enquanto todos brindavam em sua casa, ela ouvia
o mais terno e divino choro, que fez seus lábios repetirem, entre lágrimas, que
Natal é Vida! |
|
ÁRVORE
COLORIDA Luís Valise Família
reunida, barulho, risadas, crianças correndo pela casa, Feitosa adorava as noites
de Natal. A bebida estampava em negrito o espírito cordial e fraterno que juntava
aquelas pessoas todos os anos. Durante o ano mal se viam ou falavam, mas na noite
de Natal os corações transbordavam alegria e contentamento. Depois
que os presentes foram abertos, Feitosa olhou a cunhada e foi para os fundos.
Logo chegou Anita, bochechas vermelhas, olhar radiante. No escuro do quintal,
atrás de um pé de jaboticaba, suas bocas se encontraram. Sobre o telhado, atrás
da chaminé, Papai Noel ajeitou o saco vermelho e pesado: - Isso ainda
vai dar merda. |
|
CONTO
DE (PRÉ) NATAL Raymundo Silveira Joana
já se encontrava no sexto mês de gravidez e estava muito inchada. Saiu de casa,
às duas da madrugada a fim de não perder a ficha para a primeira consulta pré-natal.
Antes, já havia tentado, mas nunca houve vagas. Ainda assim teve de pagar cinco
“contos” a um guardador de lugar na fila. Tentou dormir um pouco, mas o frio,
o medo e a dureza do chão a impediram. Às sete da manhã, um vigia entreabriu
a porta principal e avisou: “Atenção! Todas as gestantes têm de remarcar nova
consulta para depois de amanhã. Hoje é dia da confraternização natalina dos funcionários
deste Posto e amanhã será feriado. |
|
ATÉ
UMA CRIANÇA ENTENDE Thaty Marcondes -
Mãe, me leva no shop? - O dinheiro mal dá pra comer e você quer ir ao
Shopping? Tá maluca, menina? - O Papai Noé tem dinelo!
- O Papai Noel, seu pai, sua mãe, todo mundo tá sem dinheiro! E o Lula, que foi
pobre também, proibiu presentes este ano! Natal é pra ir à Igreja rezar pro Menino
Jesus que vai nascer, bem pobrezinho, lá longe! Pronto. Entendeu agora?
- Num tendi nadica de nada! O Papai Noé tem dinelo puqui tabáia no shop, sua boba!
Num vô pidi a buneca pá ele puqui ele tem di dá lopinha pu nenê Jesus! Eu tloco
a boneca pela olação, tá? Ele é velinho: num paga ôminus, né? Faiz um bolinho
pá ele levá na viage? |
|
CARTA
DE UM ANJO Thaty Marcondes O
anjo acordou triste, ao ver tantas crianças e mães lacrimosas, com o Natal se
aproximando. Arrancou uma pena da asa esquerda. Doeu - menos do que doía
aquela tristeza – e sangrou um pouco. Aproveitou e escreveu uma carta, com a pena
molhada no sangue do ferimento: - Senhor, deixa-me ajudar a aliviar o
sofrimento destas pessoas tão tristes, tão desafortunadas. Que um sorriso se estampe
em seus rostos magros, que a alegria paire, ao menos, neste Natal! As
crianças não entenderam muito bem aquele Papai Noel que apareceu na favela: tinha
asas e trazia, além de brinquedos, muita comida gostosa! |
|
UM
CONTO DE NATAL Vera Vilela A
menina olha o céu, vê uma estrela e aperta em sua mão - a cartinha que escreveu
para o barbudo - aquele que viu na televisão da vizinha e pede: - Senhor
Barbudo! Quero uma bicicleta, pra passear com meu pai. Desce para sua casa e dorme.
No sonho o Senhor Barbudo chega numa carroça puxada por cavalos e entrega
a sua bicicleta. Amanhece. Ela corre até o portão e vê o pai
sair de maca de uma ambulância. - Foi atropelado com sua bicicleta.
O dono do carro deu esta caixa de presente, é para a menina. Afinal hoje é Natal.
Era uma bicicleta. O pai não mais andou. A bicicleta foi vendida,
a menina nunca a usou. |
|
NATAL
BRANCO Leila Barros Na
minha lista de presentes, vou acrescentar: Um Natal branco, sem neve,
só a alvura das almas e do algodão doce e nos telhados uma garoinha de coco ralado.
Vou querer um Natal de plumas de anjos e também de seres reais, com os quais
eu possa trocar abraços e ideais, poesias e rabanadas! Há de ser um natal
branco de açúcar cristal, com anjos de meia asa a assoviar. Quero sentir
os aromas dos fornos alheios, guarnecidos de compaixão e calor. Desejo
estrelas moídas para salpicar em todos meus amores, amigos e seres afins...
Há de ser um Natal dente de leite... Branquinho assim... |
|