PRESENTE DE NATAL
Ubirajara Varela

Neste último sábado, saí logo cedo para um curso. Como estava atrasado, resolvi pegar um táxi. O motorista, muito simpático – até estranhei, porque geralmente os taxistas não são nada simpáticos, quanto mais às sete da manhã –, contou-me um caso muito interessante. Aliás, pode-se dizer que os mineiros em geral têm grande vocação para contar casos, piadas, pequenos contos e histórias. Faz parte da cultura.

Durante a corrida, avistei uma fila numerosa diante de uma escola, lugar onde nunca se formavam aglomerações, digamos, ordenadas. Comentei com o motorista, ele rebateu dizendo que ficara curioso, porque já havia passado por ali e não reparara na fila. E me disse, a curiosidade me fez lembrar de uma história e eu vou lhe contar:

Um sujeito jovem, recém-casado, ficou sabendo da existência de um velho sábio e , a fim de se tornar sábio também, resolveu ir ao seu encontro. Pediu para a mulher que o esperasse retornar pacientemente, pois ele voltaria um homem melhor para ela. Decidiu-se, no dia seguinte, logo cedo, a por o pé na estrada. À noite, fez amor com sua mulher.

Durante vinte anos, ele caminhou à procura do sábio. O velho morava em um lugar muito difícil de ser encontrado.

Quando conseguiu finalmente localizá-lo, o homem perguntou ao velho como poderia se tornar um sábio também. Ele respondeu que não sabia, mas que poderia lhe dizer três coisas a respeito. Primeiro, que ele nunca pegasse atalhos ou procurasse encurtar caminhos. Segundo, que ele não fosse curioso. Terceiro, que ele não fizesse nenhum julgamento com base na primeira impressão. E o velho não lhe disse mais nada. Apenas sorriu. Um sorriso meio banguela, mas muito simpático.

No caminho de volta para casa, uma pessoa ofereceu-se para ajudá-lo. Ela sabia de um caminho mais curto, um atalho para que pudesse voltar mais rápido. Aceitou, mas logo no início do percurso, ele se lembrou do velho, e resolveu regressar pelo caminho mais longo. Sorte, pois aquela pessoa era um ladrão.

Mais adiante, deparou-se com uma aglomeração de pessoas fazendo grande estardalhaço. Ficou curioso, quis saber o que se passava ali. Ao se aproximar, lembrou-se do sábio, não ser curioso. Logo que se afastou, a polícia chegou e prendeu a todos. Eram saqueadores.

Quando chegou em casa, cansado da longa viagem, não fez barulho algum, e viu a mulher fazendo carinho em outro homem. Saiu de casa revoltado, e decidiu que ia matá-los. Ainda assim, lembrou-se do velho sábio, não julgar pela primeira impressão, acalmou-se e voltou para casa. Ao chegar, a mulher lhe recebeu muito bem e disse que aquele era o filho dos dois. Já estava com vinte anos, e se tornara um homem tão bom quanto ele.

Nessa hora, o taxista virou-se para mim, não disse mais nada, apenas sorriu. Um sorriso meio banguela, mas muito simpático.

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