APENAS LEMBRANÇAS
Thaty Marcondes

O prato ainda está sobre a mesa. Intocado, limpo. Os talheres lado a lado. O copo à frente. Brilhante e transparente. As panelas limpas sobre o fogão.

Hoje não teve almoço. Há dias que Leda não cozinha. Provavelmente também não haverá jantar, mas a mesa está arrumada, esperando pela sua volta.

No quarto, a cama está pronta, esticada, alva. Com exceção de um travesseiro de penas, companheiro de infância descuidadamente esquecido, envolto na fronha azul da roupa de cama onde dormiram, antes da partida - única herança deixada: seu cheiro. De resto, sua imagem nas fotos. 

O telefone não toca. 

O estômago dói, mas ela o espera para o jantar. Ou para o almoço. 

O corpo quer o descanso da cama limpa, mas ela o espera para o amor. A mente quer descanso, mas a saudade dói, quando sente o seu cheiro no travesseiro.

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Alguns anos depois, Francisco espanta-se ao receber uma carta de um escritório de advocacia. Atendendo ao convite, comparece ao encontro, descrito no conteúdo da mesma. Quando volta, Mariana, assustada, pergunta:

- O que é isso em sua mão? Que coisa suja! É de algum pobre? Você está me trazendo lixo da rua?

- Não, mulher. É apenas algo da infância que esqueci na juventude. Agora, adulto, eu o recebo de volta!Herança de uma velha amiga. Apenas lembranças do passado.

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