CARPE DIEM
Shirley Kühne
Ela, uma bela morena; vinte e cinco anos, vestida para matar apesar do avental branco puído por cima das vestes simples.
Ele, tão menino e tão consciente de seus prazeres.
- Ah, deixa! Só um pouquinho.....
- Não dá tempo!, e o almoço, a aula? Você vai se sujar todo....
- Ah, eu me lavo depois. É rápido. Juro que é só um pouquinho! Eu faço o que você quiser depois..... Verdade! Ah, deixa, vá...... Mamãe nem vai saber!
E nisso já foi tirando o tênis, e sua boca ensaiava uma risadinha safada. Ah, é muito bom. Delícia. Escorregou pelo terreno fértil, experimentando a umidade e a maciez acolhedoras. Divertiu-se por alguns minutos de uma eternidade que alimentava suas fantasias. Tateou o solo macio, ora delicado, ora exuberante em suas pontas agrestes, com um prazer maior que o tátil. Universo sensorial. E foi que foi pisando a relva, pisando gretas, pisando grama, pisando estrelas, pisando galhos, pisando folhas, pisoteando montículos, sonhando colorido, pisando verde, se afundando nela, afundando a alma, pisando a lama. Até que ela interrompeu:
- Chega, menino! Vai lavar os pés desse barro todo! E anda logo que o almoço está pronto! e hoje você não escapa da salada. Não mesmo! Pensa que eu esqueci a promessa? Humpft....... todo dia só batata e bife! Se a sua mãe sabe.....
E lá se foram os pezinhos, sujos e doloridos de contentamento, enjaulados uma vez mais no tênis branquinho. A expiação primeira de um inocente desejo que prenunciava pecadinhos que estariam por vir.........
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