?QUE
FIM LEVOU A DEMOCRACIA?
Sérgio Galli
(ao som do Oratório de Natal, de J.S. Bach)
O poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht já perguntava (as palavras não são bem estas, mas vale o que querem dizer): o que é mais criminoso, roubar um banco ou funda-lo? Além dos bancos, outro useiro e vezeiro na prática do roubo, o Estado. Claro, há eufemismos, meias palavras, economês, enfim, uma série de artifícios para dizer que não é bem isso. Mas entra governo e sai governo, sai tucano, vem lula e a cantilena é a mesma. Essa acintosa e oportunista posição do atual governo (os anteriores faziam a mesma coisa) de não atualizar a tabela do imposto de renda e de não reduzir as alíquotas é um exemplo desse roubo. E tem mais. A previdência é mais clamorosa. Empresas, inclusive bancos, devem bilhões de reais à Previdência e simplesmente não pagam. Quer dizer, eles recolhem do salário do trabalhador e simplesmente não repassam ao INSS que usa um belo eufemismo -- apropriação indébita – afinal, dizer que isso é roubo pega mal. Assim, O INSS finge que cobra e, quem paga a conta desse roubo é mais uma vez a patuléia. Pois essa tal reforma da previdência é mais um engodo, uma empulhação, uma “tunga” sobre a plebe rude. Tenho uma gestão para qualquer deputado ou senador. Para resolver definitivamente esse problema do déficit da previdência e, na onda dos vale isto, vale aquilo, leve-leite, bolsa-escola, fome-zero, bolsa-família, bolsa-cabra, e por aí afora, que se faça um projeto de lei para quando um trabalhador encerrar o seu ciclo produtivo (belo economês, hein!) seja dado a ele um vale-caixão. Quer dizer, parou de trabalhar, virou inativo, então vai direto para a cova rasa. Parque que viver o resto da vida em sofrimento, visto pela maioria das pessoas como um criminoso e, além disso, ter de ficar horas, dias, num interminável fila para receber migalhas.
Mas nada disso é novidade. Com bem disso o escritor português José Saramago em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, quem manda são as grandes corporações, os grandes conglomerados industrias e econômicos, particularmente, os bancos. Parlamentos, Governos, Estados, Instituições, políticos, tudo isso é um teatro de fantoches. O governo do PT simplesmente segue à risca a cartilha do Fundo Monetário Internacional que é instrumento desses grupos econômicos. Reforma da Previdência, não reajuste da tabela do imposto de renda e essa coisa nauseabunda de ajuste fiscal, superávit primário, produto interno bruto, crescimento, desenvolvimento, esse blá blá blá tedioso é só para atender ao Deus Mercado. Não agüento mais esse rosário; Pior, a dita mídia segue na mesma toada e diz amém. Isso é democracia?
O parágrafo acima parece ter simplificado algo complexo. Parece que apenas encontrou um bode expiatório, ou discurso de esquerdista que parou no tempo. Ledo engano. A complexidade da questão não é percebida pois esse pensamento único é muito bem articulado e os meios de comunicação são peça fundamental desse processo todo de embrutecimento, de limitar tudo a uma retórica tecnoeconômica sustentada por estatísticas, pesquisas, gráficos, índices, siglas, e, claro, pela tal indústria do entretenimento. Conclusão: isso é uma pseudodemocracia. Arremedo de democracia.
Esse modelo de democracia representativa faliu, esgotou-se. Ou será que o presidente dos Estados Unidos é um democrata. È democrático os Estados Unidos invadirem uma nação com alegações mentirosas, falsas? É democrático o presidente Bush (eleito numa eleição no mínimo suspeita) celebrar com os soldados invasores na terra estranha uma festa que diz respeito apenas ao país invasor? Isso foi uma afronta, um ato desrespeitoso, para dizer o mínimo. Será democracia apenas ir a determinado período às urnas escolher novos representantes para o parlamento, para a chefia do governo? Isso não é democracia. Não é democrático um governo – diga-se de passagem, que se diz do partido dos trabalhadores – cortar a aposentadoria de milhares de pessoas (na maioria velhos com mais de 90 anos) a pretexto de se fazer um recadastramento que, em tese, irá coibir fraudes na previdência? É democrático um governo ou o Estado praticar um roubo declarado (o não reajuste da tabela do imposto de renda) só para manter o tal superávit primário ou o ajuste fiscal (regra imposta por uma instituição supranacional a serviços dos grandes grupos econômicos)? Hitler, Stalin, Pinochet, Mao Tse Tung, Gengis Khan, Torquemada, não fariam melhor. Estamos, pois, sob a pior das tiranias, que nem é de um tirano, mas de um papel pintado (dinheiro). Quiçá, a tirania de uma partidocracia ou, melhor ainda, plutocracia de uma 100, 150 200, não mais que isso, corporações econômicas. Uma democracia tirânica ou a tirania democrática. Em resumo: trabalhamos e vivemos para pagar impostos que o governo uso para saldar a dívida do empréstimo feito junto ao FMI que, por sua vez, paga o Citibank. Bela ciranda! Que tal o presidente do Citibank ser o presidente do Brazil. Muito mais prático, não precisa mais de eleições. O dinheito vai direto para Wall Street. Além do mais, a língua inglesa (ainda bem que não sei falar inglês) já é dominante. . O medo e a arrogância venceram a esperança.
?Feliz ano novo velho?
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