NO MEIO DO MATO EU VI UM PIÁ COM DOIS MUTUM
Ronnie Vitorino

Brasileiro tem o péssimo hábito de endeusar as coisas e algumas pessoas. Sempre acham que um amuleto será a solução para todos os problemas. Aí, fazem promessas, distribuem santinhos nas portas das igrejas, fazem peregrinações para Aparecida, não perdem uma missa do Padre Marcelo Rossi, compram escapulários, enfim, uma infinidade de beatices. Tudo é compreensível num país extremamente "católico" e carente como o nosso.

Nossas carências vão desde a falta de dinheiro, até a falta de esperança. E nem venham usar chavões de campanha como: A Esperança venceu o medo, por favor! Os brasileiros fazem essas coisas, pois esperam um Salvador da Pátria. Esperam alguém que os tire dessa choldra ignóbil que assola o país há séculos. Temos esse estigma messiânico porque aguardamos a vinda do messias para governar o Brasil.

Foi assim com Dom Pedro I. O arquétipo daquele barbudo era o protótipo do que a sociedade da época queria ser e precisava. A figura do José Bonifácio sempre presente no pensamento do déspota "esclarecido", também ajudava no marketing do cidadão. O Pedrinho era a esperança dos brasileiros contra a coroa portuguesa. Por um tempo fez o que outro "messias" (Tiradentes) queria fazer, dizendo que ficava e declarando a independência do país. Declarou-se, assim, o Salvador das mazelas brasileiras.

"Já podeis da Pátria filhos, ver contente a mãe gentil; Já raiou a liberdade no horizonte do Brasil!".

Mas, a esperança foi por Tejo abaixo. Como tínhamos um governante mulherengo (protótipo de todo bom canalha brasileiro), logo começaram suas cagadas imperiais com a musa de seu fado. Ah... Domitila. Assim, fugiu do Brasil com a gonorréia entre as pernas, deixando o país num som oco de um grito às margens do Rio Ipiranga.

Depois veio outro barbudo, o Pedro II. Muito mais inteligente que seu pai e com um pensamento europeu de transformação e mudança mais acentuado. Construiu faculdades, mas o povo, já sem esperança e com certa birra, "expulsou" aquele que seria o melhor governante do país. Pena... Nunca tivemos cultura suficiente pra saber quem é bom e quem não é. Paciência... Não era o momento de um Salvador. Ruy Barbosa sabia disso: "O povo tem o governo que merece".

"Do Ipiranga é preciso que o brado, seja um grito soberbo de fé! O Brasil já surgiu libertado, sobre as púrpuras régias de pé.".

Com a instauração da República, de prima vem outro barbudo. Bem barbudo, diga-se de passagem. Será sina?! Havia certo clima de esperança com a vinda da res publica. Porém, a posse por eleição indireta, frustrou a população. Por que será que começamos tudo errado? Saco! Pior, o indivíduo renuncia. Começamos mal mesmo.

"Liberdade! Liberdade! Abra as asas sobre nós!".

Com o passar dos anos, nossos presidentes foram "limpando" a cara, mas nossa política do café-com-leite-jurídico não deu muito certo. Guerra Mundial, queima de alimentos e crise de Bolsas de Valores, foram alguns fatores que deixaram a população sem pensar num próximo Salvador.

"São Paulo da garoa, São Paulo da terra boa"; "Oh Minas Gerais! Oh Minas Gerais!".

Com o povo cabisbaixo e alienado, surge o "pai dos pobres". Direitos trabalhistas, falcatruas, repressões, desaparecimentos, jornalistas sofrendo atentados. De cara "limpa" só pra ser a "mãe dos ricos" mesmo. O suicídio foi uma boa alternativa.

Mais um balde de água fria! Eis que vem um cidadão de bigode preto com idéias revolucionárias. Dito, por muitos, como bêbado e louco. Seria, esse, o Salvador? Seria, mas durou pouco. Sete meses. Bem no dia do aniversário do meu pai, que votou nele, as forças ocultas forçaram uma renúncia.

Entra o período negro da história brasileira. O período em que os governantes resolveram pregar o que está escrito na Bandeira Nacional a ferro e fogo. Mais fogo do que ferro. A Ordem até foi estabelecida, mas o Progresso não deu. Crises e mais crises positivistas.

Quando, enfim, achávamos que as coisas melhorariam após a turbulência militar, veio outro bigodudo de maneira indireta, para tristeza do povo. Mais promessas e pacotes econômicos. O dinheiro não tinha mais valor. Mudamos para o novo, para o velho, crises de identidade, até. Dupla, tripla e, até, tetra personalidade. Ninguém agüentava mais a remarcação dos preços e a corrupção congressista. Até que...

Surge o "verdadeiro" Salvador da Pátria collorindo o país e caçando marajás. De cara limpa, esportista, jovem e bonito. Era tudo o que a população queria. "Íntegro". Balela! Não demorou muito para apunhalar o povão e confiscar as poupanças. Pena que não existe anestesia para o bolso, quem sabe assim não sentiríamos a falta de dinheiro. Com os caras-pintadas nas ruas, o Congresso se vê pressionado a tirar o Salvador do poder e salvar o país de mais uma crise. Na verdade, estamos numa eterna crise. Resultado: Renúncia. Isso porque o Luis Inácio falou, Luís Inácio avisou.

Aí surge o Real. Os intelectuais chegam ao poder com a promessa (mais beatice) de levantar o país de cara limpa. E tome porrada no povo. Crise de energia, falta de água (maldito São Pedro! Por que ninguém fez promessa pra ele?) etc.

"Deitado eternamente em berço esplêndido..."

Hoje temos um novo Salvador da Pátria (Barbudo) que irá nos tirar do buraco, que "renovou" a esperança. O mundo o admira, as pessoas o aplaudem, é querido, viaja bastante, não mudou nada, não cumpriu com nenhuma promessa mas, mesmo assim, ainda acham que ele é O cara. Esquecem que durante muito tempo, foi o partido que ele fundou, que não deixava as mudanças ocorrerem no país. Que, durante anos, eles pararam a máquina para não fazer as reformas necessárias ao país. Paciência... foi isso que ele nos pediu.

É a famigerada memória que assola o país. Nem barbudos nem limpinhos. As pessoas precisam é se lembrar das coisas, das atitudes, das palavras.

É em virtude dessas e de outras que, na próxima eleição, votarei no Sassá Mutema. Esse, pelo menos, não era um beato-político, com falsas promessas e tal. O problema é que ninguém lembra mais dele, o verdadeiro Salvador da Pátria.

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