BEM VINDO...
Leila de Barros

Na verdade eu te esperarei como já esperei outras vezes...Mas, dessa vez sinto um cheiro de renovação no ar, como se estivesse no mato que acabou de receber uma chuva boa e criadeira. Escolho uma roupa de festa, um vestido bem claro, sandálias confortáveis e me dou um ar de praia, com cabelos recém-molhados e um olhar calmo, salpicado de ondas e a brancura da areia e das garças.

Um espírito de criança vai tomando conta de minha alma, que assim como Drummond, necessita de poesia e carinho para caminhar na certeza e na plenitude.

Eu te esperarei dessa vez com menos ansiedade, mas com mais presença, mais confiança, um amor mais maduro, porém não menos apaixonado.

Uma caminhada pela areia inicia esse ritual de espera e uma luz dourada projeta-se no final do horizonte. Essa conjunção de sol, areia, brancuras espelhadas e espalhadas pelo cenário remontam uma escultura de Gaudi, tudo muito claro e luminoso.

Acho que funcionamos como data-shows (sabe os antigos retro-projetores?!), refletimos em nós e além de nós a alvura ou o acinzentado que estamos sentindo. Para bom entendedor, meia gotinha de guache basta!

Minha provisão de espera será simples, uma cesta de vime na qual eu coloco intencionalmente objetos de muito valor: uns sonhos de valsa, uva Itália, umas miniaturas da Betty Boop, figo seco, uva-passa, pêssegos, CDs favoritos, panettone, torta salgada e uma toalha de mesa.

Tudo o mais está guardado na partitura da minha alma, as notas mais doces e as mais alegres. Alegro ma non tropo!

Não brindarei com nada alcoólico, somente sucos coloridos, que reflitam a sintonia de cada célula do universo. Acho que assim vamos acabar digerindo um arco-iris! E as palavras sairão ainda mais doces e lúdicas, porém lúcidas.

O dia seguinte tem de ser uma continuidade sóbria, sem arrependimentos.

É... quando eu te espero fico assim meio bucólica, meio Zen...

Se pudesse instalaria um carrinho de algodão doce nos arredores, não poderia faltar também um realejo que tivesse uma infinidade de cartõezinhos com poemas em estilo haicai. Papel branco, partituras brancas...

Tá achando tudo isso muito doce? Muito calmo?

Prefere uma espera mais agitada? Um rock de Eric Clapton? É porque você nunca o ouviu cantando Blue Eyes Blue...

Nada mais etílico e doce... Até os roqueiros se dobram a um pit stop na calmaria e na doçura.

Eu te espero aninhando em minha alma - como em um ventre materno - todos os sonhos, todos os alentos, todos os eventos e toda a claridade desse novo dia que vem rompendo e trazendo de bandeja todos os desejos.

Eu te receberei com um abraço, na dimensão dos meus sonhos e da aurora boreal. Seja bem vindo ano novo, vamos celebrar a vida, a estação "de" Luz, com muitas taças de cristal. E que sejam cristalinos também os nossos sentimentos, transbordando e tocando - como bolhas de refrigerante - a alegria alheia.

Serenidade e claridade, ao som de Eric Clapton ou Mozart, mas vamos dançar...

Doce espera...Gravidez de doze meses...

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