SAUNA
Juraci de Oliveira Chaves
Num desses tantos dias de entardecer acinzentados carregados com nuvens pesadas prontas para desabarem, Maryse entrou na sala silenciosa onde acreditou estar repleta de vozes femininas. Para seu espanto nem uma pessoa. Uma sensação de isolamento mas não desistiu. Aproveitou o silêncio para abrir e repassar os e-mails do pensamento, acoplados em sua mente.
Depositou os pertences no escaninho e adentrou-se na enorme sala. Sentiu a presença do invisível, do vazio, do ninguém. Mal encontrou o seu lugar preferido. O ambiente escuro e nevoento encobriu a sua visão. O frio gostoso na ponta do nariz, fez cócegas causando uma sensação carinhosa.
Reclinou-se no colchão sobre a grade, deitou de barriga para cima, fechou os olhos e sentiu aquela paz esquecida do medo. A densa neblina fabricada pelos aparelhos quase palpável. Não perdia para a natural da montanha que bloqueava o horizonte.
Absorveu a calma lentamente respirando fundo. Ainda faltava muito para o encerramento do expediente, apesar de não ter notado a presença de nenhum funcionário. Não importava, a sauna estava aberta e ela estava lá. Precisava daquele isolamento. Fazia dias que pensamentos libidinosos ocupavam sua mente. Quando menos esperava lá estava ela descobrindo as delícias do seu corpo. Em todas as partes que tocava, o gozo a explodir, só adormecido. Alguns manuseio com os dedos, acordava uma multidão de prazeres atrevidos, prontos para entrar em cena.
Naquele dia, pretendia atingir o ápice do prazer e nele se inebriar durante aquele final de tarde acasalada com a noite. Percorria suavemente nas linhas sinuosas do seu corpo, invadidas por frêmitos voluptuosos de ardentes desejos. Desejos esses, segredos seus. Ouvira falar nas delícias do sexo e buscava esse máximo. Um dia, bem próximo, o encontraria.
Não percebeu quanto tempo se passou naquela viagem de descobertas.
De repente, a presença de alguém. Não abriu os olhos mas, já não estava mais sozinha.
Sabia que era uma figura feminina. Ali, jamais freqüentado pelo masculino. Até o cheiro do ambiente era de rosas silvestres. Maryse pressentiu a respiração ofegante da presença até então, incomoda. Havia outros lugares não precisava dividir com ninguém, ainda por cima, muda. Não importava. Ignorou a estranha invasão insólita, contudo, uma sensação eletrizante percorreu seu corpo. Com a sua timidez jamais teria coragem de comentar esta mudança repentina. Era ainda muito jovem e tudo lhe parecia novo e perigoso. Começou a pensar em momentos sensuais com alguém. Nunca havia feito sexo. Chegava a hora. Quem seria seu primeiro parceiro? Relutou veemente quando percebeu em sua mente, a idéia de uma parceira. Nunca. Não podia antecipar o enterro da mãe. Pertencia a uma família conservadora - pensava que fosse - e jamais aceitaria esse tipo de relacionamento. Não acreditou quando percebeu que a pessoa ao lado fazia questão de se encostar cada vez mais junto a ela. Tentava afastar-se e logo, novamente muito próximas. Estranhou consigo mesma por não relutar. Já estava aceitando esta companhia. Uma fragrância oleosa começou a ser espalhada por mãos com toques suaves. Ousava-se cada vez mais e lhe fazia conhecer sensações nunca sentida por ela. Deixou-se levar para este paraíso infinito. Não se recusou. Começou a suar frio quando sentiu envolta nos braços que a apertava e a puxava para um corpo quente, também oleoso e cheiroso. Não retribuiu as carícias, estava ainda assustada. Protegeu-se com a toalha felpuda, dissipando o nervosismo.
A inibição de Maryse foi se diluindo, misturando com o vapor quente. Uma atrevida língua deslizava sobre sua nuca, suas costas e lóbulos das orelhas. Apeteceu a ela fugir mas, a atração era demasiada e envolvente. O hálito muito próximo encurtando a distância do abismo. Sim, era obscuro este caminho. Precisava reagir. Não reagiu. O tempo passava e o frenesi aumentava. Nenhuma palavra para não quebrar a magia. O prazer já era recíproco. Uma pausa. A moça acendeu um cigarro com dificuldade. Era mesmo para infringir regras, ganhar tempo - nunca podia fazer isso na sauna - excitante o proibido. Maryse aceitou o cigarro que lhe era oferecido e experimentou pela primeira vez, o sabor da nicotina. Precisava acalmar o coração que insistia em bater forte. O seu corpo tremia. Mais uma tragada misturada com o sabor do beijo nunca dado mas sempre sonhado em seus devaneios de adolescente. Uma bebida forte e doce a fez engasgar provocando tosse que foi sufocada com outro beijo demorado. Mãos sinuosas numa massagem pelos mamilos entumecidos e eretos, num convite ao deleite. Era impossível para o ser humano, resistir. E ela se entregou àquelas delícias insuportáveis, insuperáveis. Não teve jeito. Conheceu pela primeira vez, o gozo, numa explosão meteórica. Viajou pelo prazer cósmico numa nave veloz e enigmática. Queria uma segunda viagem, um segundo gozo. Segurou com força a mão parceira, direcionou-a ao ponto fraco, ou melhor, forte, e começou o preparo para uma nova decolagem. Não demorou. O gemido soou pelo recinto. O prazer foi devassador, em dupla, na mesma fração de segundo.
O silêncio retorna. O sossego convida o sono mas, não na sauna, em casa.
Preparam-se para sair. A porta foi aberta e a claridade das luzes penetrou. Os corpos esbeltos foram admirados de baixo para cima, numa curiosidade enorme por ambas em conhecer o portador daquele corpo, poço de prazer. O susto e o grito, não de gozo, mas, de espanto:
- Tiaaa!!!
- Maryse!!!
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