DA SAUDADE DAS COISAS
Jayson Viana Aguiar

Há pouco comprei um televisor novo. Real flat, Virtual Douby Surround, Dwide, DTS: é tanto nome em inglês que não sei nem para aonde vai. E o pior não é isto: o manual do proprietário e tão grosso quanto o Mundo de Sofia, com a agravante de conseguir ser um tico mais enfadonho. E se eu disser que o televisor seu pane. Claro que não pagarei pelo reparo que o aparelho está na garantia; contudo, que falar do inconveniente de ter que levá-la a assistência técnica? Primeiro eu tive que pedir a camioneta de meu sogro emprestada porque meu carro popular não comportava aquele trambolho. Depois tive que solicitar a ajuda de meu vizinho para por o televisor no carro de meu sogro, pois, sozinho, eu não conseguiria erguer o estorvo. E olhe que até então nem mencionei o valor das dez prestações que mensalmente deverei pagar pelo aparelho. 

Por estas e outras é que sinto saudade de uma época que não vivi: meu avô, na hora de por o cupom em uma urna, teve apenas o cuidado de colocá-lo com a mão esquerda e bumba! Ganhou o televisor mais caro de então e que, nem por isto, tinha mais que o botão de ligar e desligar, que era o mesmo para ajustar o volume; e mais um outro que era para mudar para qualquer um dos treze canais em uma terra que só havia uma emissora. Reclamar do preto e branco? Que nada! Este era o máximo dos recursos de então. Este foi o primeiro aparelho de televisão da casa de meus avós maternos e ele só deu problema após cinco anos de uso. Foi quando meu avô chamou o técnico em casa, vê que luxo. Vovô sentado na cadeira e a esposa e a filharada em pé, atrás dele, esperando o tão importante momento de ver o televisor novamente funcionando. Pronto! O técnico fecha a tampa traseira do aparelho, liga-o e vai sentar na cadeira ao lado de meu avô. A imagem se forma por meio minuto, para depois se apagar de novo. Decepção? Não! Minha mãe, a caçula, então com sete anos, sai do meio dos irmãos maiores e se coloca ao lado do televisor; dá-lhe um tapa tão forte na lateral do aparelho que o obriga a abrir a imagem. Vivas! Televisor consertado! 

Não é para sentir saudade destas coisas, desta época? O técnico lá da assistência ligou dizendo que o conserto demorará uns quarenta dias para ser feito, que a peça substituta está vindo do Japão. E olhe que, antes de levar o televisor ao técnico, tentei ligá-lo com a mão esquerda e ainda dei uns tabefes nele! 

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