NA RUA 09
Olívia
E na noite em que a lua estava bela, fez-se a festa. "Nenhuma data especial". Só a vida. Puríssima.
As saias todas escorregaram docemente dos cabides e calçaram as sandálias com as quais se davam bem.
Os paletós, elegantes, ajeitaram-se, abotoaram-se e engravataram-se. Puseram-se um ao lado do outro, e passaram a flertar com as belas saias. Sem pernas, nem pés.
O rádio, acordado pela balbúrdia dos tecidos esbaforidos, tratou de "passear" e encontrou uma estação que tocava uma canção de Emilinha.
Alguns perfumes excitaram-se e explodiram seu odor por todo o velho brechó, palco daquela surpreendente festa.
A alma das coisas todas estava acordada.
O roçar dos tecidos era completamente sedutor, e a lua, que era nova, inchou-se. E ficou cheia de uma espécie de contentamento. Amor. Saudades. Encantamento.
A atmosfera inundou-se de um cheiro de coisa que despertou há pouco. Cheiro bom. A vida, decerto. Puríssima.
E antes que o sol descobrisse a festa, tudo voltou ao devido lugar no brechó da Rua 09.
E a solidão de todas as coisas se apresentou mais uma vez.
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