COISA DE GENTE
Bruno Pessa
Tentei fazer o teto falar, enquanto balbuciava algum pesar. Esperei o travesseiro amigo responder, quando uma dúvida pungente pôs-se a doer. Logo o eco se desfez, e me rendi mais uma vez. O teto e o travesseiro permaneceram calados. Estou só? Sinto que as costas o mundo me deu. E por mais que eu cutuque, ele é muito grande pra escutar.
O desespero bate. Alucinadamente corro, até me refazer como travesseiro. Tranqüilo até demais; deitam-me, deitam em mim, levantam, e eu deitado. Melhor o teto. De lá, tudo à vista. À minha vista unicamente, retifico; ganho olhares apenas se dou luz ou preocupação. Só sirvo se estiver lá - indispensável, porém banal.
Quero de novo ser gente. Pode ser que eu case com o que me falta, mas isso, em si, já é uma companhia que escapa da solidão das coisas.
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