SEPARAÇÃO
Argento

 
Durante a semana era fácil. O trabalho tomava-lhe o dia inteiro, o chope com os amigos, o bate-papo descontraído e as noitadas, era só prazer. Mas, quando ia se aproximando o fim-de-semana, lembrava-se sempre do seu filho e começava a chorar. 

Foi morar novamente na casa dos pais, talvez esse tenha sido o seu erro. Sentia um misto de alegria e inveja quando os via felizes. Não, claro que não tinha esse direito, mas era algo que ele não conseguia controlar. 

Quando visitava o velho apartamento vazio, sem vida, parecia ouvir novamente o barulho da criança a brincar, a sorrir, a chorar e quase podia sentir o menino a lhe abraçar. Chorava feito um bebê. 

A exceção eram os finais de semana com o moleque. Era uma maravilha. Brincadeiras mil, abraços, beijos. Dormiam juntos na velha cama de casal da antiga casa dos pais. Magia pura. 

Passaram o Natal juntos. Ele pode sentir nos olhos rasos d'água de sua ex-esposa a frustração, afinal seria a primeira festa natalina sem o seu guri. Chorou durante o Natal misturando felicidade com tristeza, pois via que tudo o que tentara construir estava ruindo. 

Como previa o acordo de separação. Deveria passar a festa de Reveillon longe do filhote que tanto amava. Decidiu aceitar então um convite dos colegas de trabalho e partiu pra Bahia. Foi uma aventura única, fretaram um ônibus e foram do Rio até Porto Seguro tomando todas. Sempre que as geladas acabavam pediam ao motorista que fizesse um "pit-stop" no bar seguinte para encher novamente o freezer do tal veículo. 

Lá chegando conheceu aquele lugar mágico, aquela pequenina ilha paradisíaca chamada Arraial D'Ajuda. Quantas gatas, quantos porres nas praias e nas festas loucas regadas a cerveja. Conheceu também uma bebida com o nome do coisa ruim (Capeta) que eram sempre deglutidas pra recuperar a energia que gastava ao tentar acompanhar a MICARETA. 

Tudo parecia bem, até ficar sozinho, quando lembrava-se sempre do seu molequinho e tornava a desabar em prantos. Às vezes nem precisava ficar só. 

Fez amizade com o filho do guia da excursão que era quem lhe fazia viajar, imaginando estar com seu pequenino herdeiro. 

Solidão, tristeza, dor e saudade foi o que sentiu quando o ano rompeu em fogos e todos se abraçavam e se beijavam. Ele limitava-se a chorar baixinho, pois não estava com quem realmente gostaria de poder estar. 
 

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