holograma
Ana Luísa Peluso

... pensava eu na sacanagem do mundo ser como é, essa coisa de um precisar ganhar do outro e como isso, afinal de contas, cansa. cansa bastante. foi quando vi um tecido de células germinando e percebi que isso, do tecido, nada mais é do que cada célula, impulsionada por "vida", superar a outra. e todas juntas no superaSuperaSupera formam aquela fermentação que é um tecido de células. tudo isso para que um corpo exista, e impulsionado por "vida" faça o mesmo movimento.
e nisso de um superar o outro, atritos surgem todo o tempo e atritos ardem.
que a dor é a prova da vida e até do amor, eu sabia, mas já não me adiantava.
a questão agora era outra:
- um estímulo repetitivo não é algo torturante, 
se não tiver fim?

...pensava nisso do mundo e das células: a tortura.
o oito me parece uma forma doente. não me conforta um infinito que tenha qualquer representação que não expanda. acabei de pensar que expanda era com esse. na dúvida, o dicionário, não é. me pergunto porquê espontâneo não é com x...
mas isso não diz muito. diz de limitações. as mesmas que eu já consigo ver no oito. mesmo vendo o oito do avesso, essa marcha contínua sugere limitação.
e quem não quer participar, onde fica? 
sempre me perguntei isso.
e sempre que perguntei a alguém, um olhar de reprovação aparecia como resposta.

...pensava nisso de não querer participar desse movimento de superaSuperaSupera, nem de germinação de célula 
(existem tantos outros estados interessantes que não do movimento total
existem os fornos para pães, que servem apenas para fazer pães.
que fermentaram também no superaSuperaSupera.
mas isso, acho que consigo aguentar)

...pensava que como bambu ao vento, nossos corpos vibram sem sair do lugar atrás de nossos sonhos dourados, como os trigais lá na frente. e dentro dele, o atrito, o superaSuperaSupera acontecendo e paradoxalmente nos destruindo, no levando à única certeza que temos. por isso, chego a conclusão que bambu não voa, mas vai precisar aprender. células não precisam existir. atritos? apenas os bom de sentir.

...pensava que se o oito contínuo representa tudo o que conseguimos entender por infinito, ele não me agrada nem um pouco. me sinto sob uma espécie de regime sSS (superaSuperaSupera) e que isso me sôa como prisão, ainda que...
ora, esqueça. já sabemos dos cenários.
(acabo de pensar que o ator é preso do texto. do personagem e do autor)
grandes campos de concentrações de todos os tipos fermentam no superaSuperaSupera nesse momento. todos tolamente dando volta em oitos. o gozado é que sempre que a volta se conclui, as células já não são do mesmo tipo. são acrescidas, maiores, expansas.
deve ser um expiral. e igualmente infinita. quanto a x de expiral e o neologismo em cima da expansão, antecipo: diante disso tudo, me permito.
que tortura.
o superaSuperaSupera não vai acabar nunca...
e nunca haverá a paz, a não ser que alguém rompa a estrutura do oito, mas creio ser impossível.

...pensava agora, que o número correto dos apocalipses de todos os tempos e espaços é 888. e que independe de números, os valores. tanto a ponto de um ser apenas uma representação infiel do outro."

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