AQUELE DIA
Pedro Grillo
Ele é uma espécie de oráculo, ou não, não oráculo, mas alguém que me inspira, que acerta minha respiração, minhas batidas cardíacas toda vez que nos falamos. A gente não se fala, mas tecla. E é sempre bom.
Eu estava solitário naquele dia, meus amigos me viraram as costas, minha família já não tinha mais acesso a meu coração, e tudo o que eu queria era saber o que eu queria. Estava triste, confuso, um morto que respira desesperado a necessidade de ser salvo, seja por um telefonema, seja por um completo desconhecido e um convite à felicidade. Foi assim que ele me apareceu. Meu oráculo, meu amigo, ele que me conhece pouco, e que fez feliz meu dia mais triste.
Completei anos naquela manhã, quando acordei e apático vi que ganhava felicitações da família. Me perguntei o que aquele povo dizia, porque eu não escutava nada. Mas sorri e disfarcei o mundo que todo mundo espera (se a gente sorri, ninguém percebe que dói por dentro). Foi isso que fiz e parti para o trabalho, para a rotina, para a solidão em estar no meio de tanta gente e tanta informação, enquanto um silêncio sideral (des)ocupava minha cabeça.
Fiz uma, duas três notícias, li o que tinha escrito ontem, reli, reli mais uma vez. Fiquei assim. Já tinha perdido a esperança.
E foi quando ele chegou. Bateu na minha porta virtual e me fez o convite para jogar video-game na sua casa mais uma vez. Foi singelo e capaz de iluminar toda a escuridão daqui de dentro. E batemos papo, sorrimos juntos, trocamos elogios, falamos mal da vida, e a conversa, de repente, chegou ao fim. Ele 'caiu'. 'Caiu' para não voltar mais.
Mesmo assim é aquela lembrança que faz do meu aniversário uma lembrança ingênua de uma mistura de tristeza com esperança, uma certezinha sem qualquer lógica de que a vida teria jeito, mesmo naquele jardim de flores mortas. Ele foi o anúncio de que a primavera podia estar próxima.
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