REGISTRO
Patricia Zayat
É o primeiro aniversário do seu primeiro filho. Entre as dívidas que vão se acumular para além da ocasião e o desejo de agradar (impressionar?) os convidados, fica a vontade de registrar cada momento da festa.
Talvez uma pergunta o inquiete: O que há de estranho nisso? Realmente nada. Fotos e vídeos são dínamos de lembrança. Quem nunca passou uma tarde revendo velhas fotos, assistindo antigos vídeos? Uma foto, olhada bem de perto, rende muitos pensamentos, sentimentos e sensações. A gente, sendo outro a cada partícula ínfima de tempo ainda tentando se reconhecer naquilo que a tecnologia cristalizou. As imagens e as palavras são suas, lhe pertencem e tornam mais claros os caminhos percorridos até a identidade atual. Dá para filosofar um bocado a respeito.
O problema acontece quando o desejo de guardar uma lembrança se transforma numa missão. É nesse momento que entram em cena filmadoras, refletores e máquinas fotográficas. Elas invadem o salão. E como se não bastasse, em nome da edição que será feita posteriormente, existe sempre alguém para organizar as fotos e as filmagens:
- Chama lá a Vera! É a foto das tias...
- Ih! Ela não gosta de fotografar não, heim...
- Ah, mas ela vem agora mesmo! Eu é que não vou ficar aqui, torrando debaixo dessa lâmpada... Ô Veraaa!
- Acho que tá faltando uma corzinha nesse rosto, Ione...
- Nair, me empresta seu batom?
- Empresto. Pega lá... Ai, cadê a Vera?
- Tô aqui. Cadê a Ione?
E dá-lhe foto de bolo sozinho, da caixa de presentes, das crianças correndo com os presentes. Foto com o pessoal do trabalho que veio para mostrar na segunda-feira. Foto de cada família. Foto de quem estava dançando, bebendo, comendo.
E nem adianta contratar um profissional. A anfitriã vai acabar tendo que fazer uma turnê pela festa com o fotógrafo para apresentar os padrinhos, os avós, os tios, os primos. Provavelmente vá chegar ao final da festa suada, cansada, exausta. E olha que nem teve tempo de dançar.
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