FLASHES
Mariazinha Cremasco
Natal. Família reunida, ela vestida simplesmente, mas com cabelos sempre arrumados, blusa decotada, saltos altíssimos (jamais usava tênis ou sandálias. Era baixinha demais para isso).
Exibia os filhos - inteligentíssimos. Ah... que orgulho tinha deles. Na escola, excelentes alunos. Nas demais coisas, normais. Absolutamente normais. Capazes das mais loucas traquinagens e briguinhas, na disputa pelo carro, pelo CD a ser ouvido, na escolha do quarto, na competição por notas, vídeo games e até os dias alternados para usar o micro depois da meia noite. Sentia-se mais mãe que mulher.
De repente, notou que estava sendo observada. Mais que isso, desejada. Era bom. Sorria, como se não percebesse. Sorria sempre e mais. Sabia que chamava a atenção, mas desacreditava de seus encantos.
* * *
Veneza. Numa ruela estreita, caminhava encantada. Frio, gente passando, vitrines coloridas. Maravilhada com tudo, das lojas aos camelôs, dirigia-se à Praça de São Marcos.
Um rapaz, trinta e poucos anos.
O susto.
Parado na sua frente, toca-lhe delicadamente o ombro, e diz com voz de anjo: "Tu sei una bella donna"
- Gratzie!
Se ele não tivesse tocado seu ombro, jamais acreditaria que o elogio, vindo de um homem tão jovem, fosse para ela.
Quando voltou ao hotel, observou-se longamente.
O rapaz havia feito um grande bem para seu ego.
Talvez nesse momento, tivesse tomado conhecimento de si mesma. Era mulher, não apenas mãe. Quem sabe atraente, quem sabe bonita, quem sabe , ao menos, despertasse desejo em alguns homens.
* * *
Outra festa. Despedida da sobrinha. Sentiu-se o centro dos olhares outra vez. Isso a fez refletir. Não, não estava com essa bola toda. Gorducha, sem brilho.
Mas então, por que?
Um jovem, um maduro, um idoso. Na mesma festa. Pessoas diferentes que a observavam. Estaria ela valorizando-se demais? Estaria enxergando aquilo realmente? Ah, essa mania de se menosprezar, de se desvalorizar...
Começou a se preocupar com a aparência. Seria inconveniente sua maneira de vestir? Rejeitava a idéia de ser sensual a ponto de ser assediada com alguma freqüência, embora fossem sutis, muito sutis os assédios.
O que estaria acontecendo?
Se era tão atraente assim, se era o alvo das atenções, se as pessoas lhe faziam tantos elogios em público, por que estava tão só logo hoje, no dia do seu próprio aniversário?
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