AMANHÃ É MEU ANIVERSÁRIO
Lula Moura

Vícios e Vênus,
pó e planeta,
Marte,
num mar de conflitos,
que segue,
e parte por aí...

Hoje é julho e eu estou por aqui, de copo na mão, travesso, trocado, côncavo ao avesso, convexo, perdido, sem nexo, de corpo na mão. E o plexo só lá... 


Plexo solar, nexo sem lar, sexo no ar. Rente ao rimar da fonética, no vento da ausência, um pedaço do meu feminino, no mar, se foi... E eu, com meus olhos de inverno, úmidos de alguma dor, verde na cor do exílio, enquanto o auxílio não vem...

Do pai eu sou filho. E disso, tenho orgulho. Assim como minha mãe. Não nesse sentido, senão seria Édipo o meu nome...

E na aparente loucura das palavras, embora acuado no vácuo, no vazio da explicação, andando pelas estradas dos sonhos, procurando a filha, a falha, marcada no inverso do quente, crente no eterno, no fio fino, no inverso do frio, no além daqui...

E aqui, neste ponto, agora, trancado e trocado, mesmo assim, tocado, meio assim, tonto, me abraço e me encontro com o tempo, um tanto suave, num outro espaço, quântico mantra, cântico zen...

Visto a minha roupa, choro de novo, fecho a minha boca e vejo que tem... Tem jeito sim... Tem, droga !... Claro, que tem...

E vem de carona no olfato do fato... E de fato, o cheiro que sinto vem do jasmim, que num outro tempo, em outra vida, saiu da ferida e nasceu... Eu vi. Cesário nasceu de Cesária, sua mãe, não a cirurgia...

Teatro ou vida? Não me recordo bem em qual dos dois, “merda” significa sorte... Num ou noutra, numa outra armadura, sem outra armadilha, eu vejo a filha de volta. Coisa boa, mesmo sem euro nem ouro, sem nenhum vintém... Isso não importa. Só quero saber por onde saio, cadê a porta?

Netuno, rode essa lâmpada aí, meu bom companheiro. E coloque mais gelo aqui, por favor... Afinal, amanhã é meu aniversário e a pretensa poesia já ficou pronta. Você brinda comigo ?... Então brinque comigo, finjamos que somos poetas. Talvez eles acreditem...

Amanhã é meu aniversário.
Vou botar minha roupa qualquer.
Vou andar por aí, por dentro do sopro.
Esperando o acalento daquela mulher.

Amanhã é meu aniversário.
Vou ler o jornal assim mesmo.
Vou deixar de pagar uma conta.
Esticando os dois bolsos vazios, a esmo.

Amanhã é meu aniversário.
Vou pedir a guitarra do amigo sardento.
Vou beber a mesma bebida antes do arroto. 
Escalando as montanhas do meu sofrimento.

Amanhã é meu aniversário.
Vou ouvir meu CD da Ana Carolina.
Vou abrir o portão e fugir do atraso.
Escapando da mente ao dobrar outra esquina.

Amanhã é meu aniversário,
Vou mandar um e-mail pra aquele jardim.
Vou xingar a vida e pedir desculpas.
Rezando pra Deus não esquecer de mim.

Amanhã é meu aniversário !

 

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