ANIVERSARIANDO
Hermann T. Ribeiro

- 25 de dezembro?? Esta é a data do seu aniversário ? Eu perguntei a data do seu aniversário não a de Cristo - disse minha professora de Ensino Religioso. A mulher tinha em torno de 1,80m e me olhava com um certo desdém, na verdade, um certo olhar raivoso.

- Sim, nasci dia 25 sim. - minha certeza, de garoto de 10 anos, era "firme como um prego na gelatina".

Em casa:

- Mãe, que dia nasci ?

- Dia 26 fio, esqueceu ?

- Ah é... - minha resposta veio amarela, frustrada. Um desânimo enorme batera em meu coração.

- Você nasceu num sábado às 3 da tarde.

- Ah tá... - outra resposta amarelada. 

Eu quereria mesmo ter nascido no dia 25. A minha impressão era sempre a de que, passado o dia 25, ninguém viria ao meu aniversário, afinal, na minha mente infantil, o bum das festas seriam os dias 24 e 25, já o dia 26 seria reservado para comer aquele lombo frio, sem-graça, já não haveria guaranás ou coca-colas, doces nem pensar. Haveria somente a ressaca dos adultos que por beberem demais esqueceram-se do aniversariante, que por sua vez, provavelmente estaria corado de vergonha e tristeza por ver tanta putaria.

E os colegas? Será que viriam? Provavelmente trariam os brinquedos ganhos no Natal e ficariam a exibí-los enquanto suas mamães me borrariam todo de batom entregando-me presentinhos de 1,99. Tá certo, justiça seja feita, há 20 anos atrás não existiam lojinhas de 1,99. Mas que os presentinhos eram de doer, eram.

Mas o que doía mesmo eram aqueles comentários das mamães e titias dos "coleguinhas" pentelhos:

- Ah pobrezinho, quer dizer que você ganha um único presente, Natal e aniversário juntos? Puxa, que azar não?

- A puta-que-pariu que ganho um único presente - pensei eu. Sim, eu já conhecia palavrões, só não os pronunciava em altos brados.

- Não tia, minhas titias me dão presente no Natal e no meu aniversário também.

Sim, elas eram minha salvação, afinal, eu era o 1o. sobrinho e o 1o. neto da parte que cabe à árvore genealógica de minha mãe, então tinha estas regalias. Mas mesmo assim, será que minha mãe não poderia ter agüentado as dores do parto mais um diazinho só?

Os anos passaram, hoje percebo com pesar, já com mais de 30 anos, que ninguém, nem mesmo minhas tias queridas, ou minha vó lembram-se de meu aniversário. Ops. Justiça seja feita novamente, o telefone tocou:

- Oi fio!

- Oi mãe, sua benção. (sim, é assim que falo, não "bença").

- Deus te abençoe fio e feliz aniversário.

- Obrigado mãe.

Não mãe, a senhora não precisaria ter esperado mais um dia não. Obrigado por me parir naquelas 3 horas da tarde mesmo. 

Obrigado mãe.

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