ENFIM, SÓ!
Míriam Salles

A noite chegava lentamente, a primeira noite solitária.

- Finalmente! pensou ela.

Há muito desejava ficar sozinha, mas isso é quase impossível quando se tem marido e filhos.

Dirigiu-se a cozinha e preparou sua primeira refeição com requintes de jantar de gala.

Talheres de prata, guardanapo de linho, pratos da mais fina porcelana e uma rosa, solitária também, no centro da pequena mesa.

Nos dias que se seguiram a solidão começou a lhe pesar como um manto escuro e envolvente.

Começou por deixar de lado as travessas e se servir diretamente das panelas.

A cama já não arrumava mais ao levantar. Limpar a casa? Pra que? Ninguém vai reparar mesmo. Aos poucos foi abandonando todos os traços de civilidade enquanto ouvia as vozes dos filhos em todos os cômodos vazios.

- Mamãe? Cadê minha camiseta?

- Mãe, me leva pra escola?

Quando a família chegou após um longo período de férias, acharam estranho encontrar a porta destrancada.

A casa revirada sugeria a entrada de um ladrão.

- Mãe? Mamããaaaaeeeee?

- Pai, corre, tem um monstro cabeludo deitado no meio dos cachorrinhos!

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