TALVEZ...
Ivone Carvalho
Talvez eu tenha esperado por você a vida inteira. Talvez o mesmo tenha acontecido com você, em relação a mim. Talvez tenhamos nos preparado durante vidas para o nosso reencontro. Talvez nunca tenhamos nos cruzado em outros tempos.
Talvez todas as amarguras que vivemos tenham contribuído para a continuidade de nossas buscas. Talvez todos os momentos felizes que já vivemos, isoladamente, tenham sido necessários para que jamais perdêssemos a esperança.
Talvez tenhamos nascido em locais distantes um do outro para que o nosso reencontro fosse dificultado, exatamente para não corrermos o risco de nos vermos antes do momento certo.
Talvez o avanço da tecnologia tenha sido necessário para permitir a nossa aproximação. Talvez os nossos sofrimentos tenham sido o sinal que tanto precisávamos para acreditarmos que um dia ainda encontraríamos a felicidade.
Talvez a alegria que sempre existiu dentro de nós fosse a certeza de que nossas vidas se uniriam. Talvez jamais deixamos de ser crianças para preservarmos a pureza do nosso amor. Talvez tenhamos esquecido que já não somos adolescentes para que jamais deixássemos de admitir a paixão que viveríamos.
Talvez tenhamos sido dotados da arte da palavra para que um dia pudéssemos expressar e transmitir os sentimentos que nos aproximariam. Talvez tenhamos nos tornado poetas para que nossos versos pudessem tocar os nossos corações, declarando a intensidade do nosso amor através da poesia.
Talvez algum relógio no tempo tenha parado, aguardando a chegada da nossa grande hora.
Talvez a chuva tenha caído para que sentíssemos na pele as carícias que nos levariam a discorrer em prosa e verso a nossa necessidade de nos sentirmos amados.
Talvez a lua tenha quatro fases para que durante três delas a saudade aumentasse e, na cheia, nos encontrássemos.
Talvez as estrelas cintilem no firmamento para que sintamos a proximidade das nossas presenças a cada piscar.
Talvez a maior parte do planeta seja composta de água para que tenhamos sempre um mar perto de nós e possamos navegar nossos pensamentos através de suas ondas, unindo-nos em suas profundezas.
Talvez a vida tenha sido muito melhor do que imaginamos, pois, acertadamente, tudo aconteceu para que um dia nos encontrássemos.
Talvez toda metamorfose que aconteceu dentro de cada um de nós, tenha ocorrido aos poucos para nos preparar para vivermos este grande amor que, enfim, nos faz dar adeus à solidão e nos faz acreditar que a vida está só começando.
Talvez essa metamorfose tenha sido necessária para que entendêssemos que este amor sempre existiu e sempre existirá, talvez, por toda a eternidade.
Talvez nada tenha se transformado em nós. E, simplesmente, hoje apenas somos, verdadeiramente, nós mesmos!
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