MENINA MULHER
Argento

 
A rotina repetia-se de Segunda a Sábado. 

Verônica acordava acordava tarde e cansada, quase sempre com uma enorme dor de cabeça provocada pela ressaca da noite anterior. 

Tomava um bom e demorado banho. Mas, nem se dava ao luxo de parar para se embelezar. Colocava aquele bonezinho surrado virado ao contrário, tipo funkeiro e aquelas roupas simples e maltratadas. 

Partia então para o batente, mais parecendo uma moleca de rua. Não podia perder mais um minuto que fosse, afinal morava na baixada fluminense, para ser mais preciso em Duque de Caxias e trabalhava na zona sul. 

Tomava o trem em direção a Central do Brasil. Felizmente vazio para sua sorte, devido a seu horário deslocado de trabalho. Chegando na estação embarcava em qualquer coletivo que rumasse para Copacabana. 

Mal tinha tempo para fazer um lanche de desjejum, lá estava a menina se produzindo toda e vestindo aquela roupa mágica que a transformava na deusa da casa, Vanessa, a mulher mais desejada do pedaço, a princesa que enlouquecia os corações. 

Os barbados babavam e brigavam para tê-la em seus braços. 

A proprietária do estabelecimento até pensou em cobrar diferenciado pela moça, mas refletiu melhor sobre o assunto e viu que acabaria causando ciúmes e brigas entre ela e suas outras sereias. 

A noite seguia como de costume com muitos marmanjos chatos a lhe bajular e alguns até carinhosos que ela fingia amar. Vanessa bebia todas, fumava e ganhava a vida, esquecendo-se completamente do seu outro eu. 

Algumas vezes sentia-se recompensada pelo trabalho, noutras, apesar do lucro, tinha vontade de largar tudo, de se matar, de fugir ou de esquecer aquela vida insana. Parecia uma vampira, quase não via a luz do dia. Transformou-se numa escrava da rotina da lida, não tinha mais razão para continuar, mas precisava seguir em frente afinal toda a família agora dependia única e exclusivamente dela para o seu sustento. 

Porém, a verdadeira metamorfose acontecia aos Domingos quando ela podia ser Verônica o dia inteiro e curtir o seu filhinho de dois anos que deixava sempre aos cuidados de sua irmã mais velha.
 

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