PRASINOSIA
Paffomiloff

Já não se distinguia o que era céu do que era mar. Ondas e vento quebravam a nau ateniense, mastigando as velas e roendo os cascos. Toda vez que a equipe de Kymatzos era iluminada por algum raio, contava-se um herói a menos.

Nos contrafortes das cordilheiras de água insana, todos pensaram que o fim chegara afinal, mas foi o próprio comandante que avistou o distante sinal de luz verde.

Os poucos que sobravam passaram a remar, dispostos a provar para Poseidon que não venderiam barato as suas vidas.

Mas o que os deuses querem tomar sempre excede o que os homens podem oferecer e um raio ergueu-se das profundezas para o céu, esmigalhando a nau de Kymatzos, que foi arremessado nas águas geladas.

O comandante podia ouvir seus homens sendo dilacerados pelos tubarões, enquanto as ondas o jogavam contra os rochedos ornados de mariscos. Alçou-se lentamente, recebendo vigorosas lambidas das vagas que tentavam puxá-lo de volta.

Quando finalmente estava no seco, Kymatzos olhou em volta, procurando a luz verde que o salvara.

O som das asas anunciou a chegada da criatura dos penhascos.

Do corpo de uma gaivota gigante, erguia-se o torso nu de uma mulher, em cujo lindo rosto, sem expressão, brincava a luz verde de uma tocha.

Kymatzos pode ver, pela primeira vez e última vez, a esquecida sereia muda, que na ausência do canto, usava a cor da esperança para selar o destino dos marinheiros.

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