SINAL VERDE
Márcia Ribeiro

Deixo estas poucas, ou tantas?, linhas para você. Nem sei se será para sempre, mas preciso me despedir. E para isso não quero deixar a página de despedida em branco.

Quero te agradecer por tudo o que tens me proporcionado, principalmente pela maneira tresloucada com que deixastes que eu entrasse na sua vida. 

Você lembra? Um telefonema por engano, como desculpa, e um recado sensual na sua caixa postal. Até hoje gosto de chamar isso de minha melhor arte.

Brincamos e nos desnudamos ao longo dos meses e quando menos percebemos já fazíamos parte da vida um do outro. Nunca ninguém entendeu muito bem essa nossa relação não carnal. 

Mas nós entendemos muito bem a força que nos une, mesmo quando resistimos ao desejo que por vezes se faz presente em tantos momentos de nós dois.

Tantas risadas, sorrisos, gargalhadas. Tantas lágrimas evaporadas por tuas palavras. Quantas vezes desejei que fossem derramadas nos seus ombros, sob seus afagos.

Mas hoje preciso ir para deixá-lo seguir sem meus passos. E vou segura do que deixarei para você e do que levarei comigo.

Seguirei com vontade de ficar. Mas é justamente essa mesma vontade que me impulsiona a partir.

Ouvi dizer que a melhor hora de ir é justamente quando todos querem que você fique. Então, essa é a hora.

Fica aqui, não só mais um pedacinho de mim, como gosto de deixar para você, mas me deixo por inteira.:

“...não tenho mais medo dos sonhos
e o que mais me encanta é ser intensa...
...no amor, na dor...
enfim, na vida que se há de viver...
Meus sonhos não são muitos,
mas muitos deles são raros e íntimos,
e tão generosos, e tão ávidos de realidade...
que a própria realidade se encarrega
de transformá-los em sonhos...”

Preciso ir, o sinal abriu, está verde para nós dois. Vamos?

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