Alfredo,
Vem aí o Dia dos Amantes.
Mesmo que seja apenas para vender bombons e lingerie encalhada, dá uma
certa nostalgia. Fico lembrando da gente em Paquetá, da nossa varanda
do pecado, dos beijos molhados do mar que a gente tinha na alma. Aquela
ausência de calma, a onda quente que deixava o coração tropeiro, a boca
seca, as pernas bambas só de pensar.
Você nunca prestou, Alfredo, mas sabe amar uma mulher, ah! isto sabe.
Despertar a fome que não passa até o seu limite, até o seu total de
nós, seu céu marinho. Aonde nos perdemos do passado? O que nos descolou,
por que não pude ser aquela que esperava? Vale a pena viver assim, a
estrada pobre que escolhi?
Ah, estou louca, eu sei. É a fase da lua, é cerveja, é doidura. É noite
pesando sobre mim, sem teus braços pra me segurar. É a vida rasgando
certeira, é a certeza de que o dia termina sem te ver. Meu moreno, meu
amor, meu amado.
Tudo que fizeste parece pouco hoje - as traições, a Laurinda, as vadias,
que passaram como a brisa de verão, frutas que comeste só porque estavam
ali, à mão. É o que dizias, o que nunca aceitei, tão difícil sufocar
o ciúme, meu tesão.
E o carteado, o Ali Babá, que importa agora se nunca suportaste pegar
no pesado. É teu jeito, não nasceste pra ter patrão. É a sorte madrasta
que não te deixa acertar na sena , nem coloca os coringas e os ases
na tua mão, fazer o que? Não é tua culpa se foste feito assim, voltado
para o nascente, certidão de brisa passada no cartório do quem sabe.
És gato de rua, não cão de coleira. Foi isto que nunca aceitei. Mas
eu errei, amor, ah! eu errei.
Volta depressa, a memória está favorável e fraca, o sinal se abre verde
para o nosso amor.
Diz pro Ali Babá trazer cerveja, reserva três dias no Motel Beira-Mar
e vamos fingir que a vida é só nós dois.
Mas atenção, tem amarelo no pedaço. Se aparecer alguma piranha por ali,
se eu souber da Laurinda nos dias de nós, eu acendo o sinal de sangue.
Não do seu, escorrido em vão, que não sou louca, mas da paixão por outro.
Vou te trair com todos, com a mesma vontade com que te chamo agora e
não haverá mais vermelho suficiente para impedir a tua entrada no meu
paraíso.
Quero a serpente apenas, o fruto proibido, mas o castigo, vamos deixar
para depois. Sei que estarei pagando caro por felicidade pouca. Mas
não faz mal.
Hoje é meu dia de te abrir o sinal.
Depois da trombada, amor, a gente chora e paga os prejuízos do valeu
a pena. Ou nossa alma é pequena?
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