ENCRUZILHADA
Alexandre Fernandes Heredia

Nossa, que gata!

Está sozinha? Aparentemente não, pois parou na porta do bar, e está olhando um pouco ansiosa para a porta. Disfarça, cara, mas fica de olho. Se entrar o namorado, tira o time de campo. Se entrar mulher, beleza.

Entrou homem. Merda.

Mas pera aí! Homem pode até ser, mas macho, nem debaixo d’água. Amigo viado? Personal Trainer? Irmão? Pomba, que interessa? Só é sinal que ela é descolada, sem preconceitos. Mulher com conteúdo, e com uma bela embalagem, devo dizer.

Sentaram-se numa mesa boa, pois não tampa a visão mútua. Não desvia o olhar até ela perceber! Olha pra cá, gata! Tou aqui inteirinho, cheio de amor pra dar, e você perdendo tempo com um amigo que não gosta da fruta? Olha pra cá, que eu tenho aquilo que você precisa...

Putz, tô me sentindo o Jesse Valadão, pensando desse jeito! Pára de machismo, cara, a mina só veio curtir um som, beber umas e outras e se divertir com o amigo frutinha.

Não, com essa mini-blusa e essa saia é impossível ela querer só se divertir. Veio pra desfilar o material, valorizar o passe, massagear o ego. Mulher assim não perde a noite, então vê se não vacila. Você já engasgou com a loira quinze minutos atrás, e agora ela tá se esfregando com um Zé Ruela no canto do bar. Podia ser você no lugar dele, então não bobeia!

Ela não tá dando trela pra ninguém! Só fica conversando com o baitola, nem olha pro lado. Assim é complicado... O banheiro! A mesa dela fica no caminho, é só passar do lado e dar uma secada, que ela se liga.

Batata, ela notou quando passei por ela. Agora é só dar uma mijadinha e passar de novo. Beleza! Ela percebeu, e aparentemente gostou. Fez um sinal discreto pro amigo, mostrando-me para ele, que deu um sorriso afetado. Ela não pára de me olhar e rir, e para mim isso é mais que suficiente. Sinal verde. Aproveito uma distração do viadinho e chamo-a acenando com o copo. Ela vacila um pouco, mas levanta-se e vem em minha direção. É agora! Nossa, ela é muito mais gostosa andando que sentada. Que olhos! Que peitos! Que lábios...

- Oi.

- Ahem! Oi. Quer uma bebida?

- Claro.

Vodka Ice. Peço mais um uísque.

- Você vem sempre aqui?

Mulher usando esse chavão? Isso não é sinal verde, é rodovia aberta! Pisa embaixo!

- Primeira vez. E você?

- Toda noite.

Baladeira, gostosa e simpática. É hoje, é hoje!

- Você não tá a fim de ir pra um lugar mais sossegado, não?

Ei, eu que deveria dizer isso! O que é isso?

- Calma, vamos conversar um pouco antes... 

- Pra quê conversar, se a gente já sabe onde isso vai terminar? Prefiro não perder tempo.

Calma aí, querida! Também não é assim! Tá pensando que sou um cara superficial, que só pensa nisso? Tá, não nego, é verdade, mas normalmente esse é meu papel, e essa inversão tá me dando um nó na cabeça Em ambas.

- Olha, vim aqui atrás de sexo casual. Uma trepadinha sem compromisso. Se você quiser conversar, prometo que fico acordada uns quinze minutinhos depois, e a gente conversa. O que você acha?

- Ei, calma! Eu nem sei teu nome!

- E eu nem quero saber o seu. Vamos?

Nunca me senti tão ultrajado em minha vida! Quem ela pensa que é, me tratando com um vibrador? Posso ser superficial e machista, mas acho que tenho mais algo a oferecer do que só sexo!

- Olha, desculpe, mas não vai rolar. Não sou o que você pensa...

- Não é desagradável?

- Hein?

- Ser tratado como um objeto sexual?

Então é isso? Sua feminista dos infernos! Eu sabia que tinha caroço nesse angu. Pega o uísque, e sai de perto dela, vai! Vaca desgraçada!

- Eeeeiiii!!

Calma aí, passar a mão na bunda já é demais!

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