BATALHAS
Alberto Carmo
Você já ouviu falar da batalha de Alcácer Quibir? Ela ocorreu em Portugal, nos tempos nas ceroulas e paninhos absorventes, e a gente estudava isso nos tempos do científico, clássico e normal. Vocês que nunca ouviram falar em ginásio, a não ser o do Ibirapuera, não se preocupem. Acontece nas melhores evoluções planetárias.
Por falar nisso, a história deixou nomes pomposos para as grandes batalhas. Tem a de Waterloo, com o famoso Napoleão - um baixinho invocado e folgado com mania de grandeza, como ocorre a todos os baixinhos. Tem a Guerra dos Cem Anos - que batalhão! A Guerra do Paraguai, que não foi falsificada, a Retirada da Laguna - não, não foi uma correria na lagoa por causa de algum tubarão do Spielberg - saúde!
Eram nomes charmosos, cheios de rococós. Naquele tempo batalhava-se com estilo. O recruta encarava cada bucha de canhão! Os ingleses mantinham estilo e interrompiam a guerra lá pelas 17h, que era hora do chá das cinco, servido depois da segunda fervura - não me venha com esse lero-lero de chá em saquinho. Os franceses faziam trejeitos à frente das baionetas inimigas, e morriam num tuchê. Estilo é estilo, e stilo quer dizer caneta na língua dos biquinhos. Fazendo um parênteses aqui, você se lembra do biquinho da Brigitte Bardot em "E Deus criou a mulher"? Ah, se você é dos que acha as dondocas da Globo o que há de melhor em termos de, ou "a nível de", mulher, nem me responda. Você ainda não sabe o que é mulher. Mas deixa quieto, senão vai que você saia correndo com a cueca na mão sem saber o que fazer com tanta coisa.
Mas então, como a gente dizia, as batalhas tinham um quê de personalidade. Os uniformes eram engomados e o inimigo pedia licença antes de disparar o bacamarte no meio do seu diafragma. Tudo no mais alto nível de elegância e tapas com luvas de pelica.
Eu me lembro que os bárbaros chegavam barbarizando feito arrastão nas praias do Rio. Só que com mais classe, lógico. Não havia a coisa da tocaia, da covardia. Eles não eram nenhuma rainha de copas, mas cortavam as cabeças. Tudo a serviço de meu rei. Agora rainha é empresária, ou candidato a latifundiário - aonde é que vamos parar!
O que eu queria ser, meu sonho de consumo, era Suzerano - eu sempre quis ter um feudo onde criar galinhas e essas coisas hortifrutigranjeiras. Até sei quem eu ia querer como vassalos, mas não posso dizer porque a rapinagem dos advogados pode sugar todas as minhas economias.
E o que falar dos Cavaleiros da Távola Redonda? Isso é que era confraria! E as bruxas, e as fadas? Ah, se Deus me permitisse uns dez minutos com a Rapunzel... que pedaço de mau caminho!
Eu sei que vocês só conhecem algumas coisas do passado através dos filmes oscarizados, com a mesma turma de sempre e cheios de merchandising - Romeu bebe o veneno da Tabasco com prazo de validade vencido e Julieta se esfaqueia com um dos ativos da Tramontina. Hoje tudo é ativo, fora os gays, claro. Funcionário virou ativo da empresa, música virou produto. Até cacho de banana é ativo. Mas quanta atividade!
Voltando às batalhas, agora os nomes são um tanto rampeiros. Tempestade no Deserto, Revolta das Taturanas, Revolução dos Grilos. Nem Orwell teria imaginado esses nomes. Isso sem falar no modus operandi da galera uniformizada. Não há corpo a corpo, é tudo no apertar dos botões, com transmissão em tempo real enquanto você come um filé com ervilhas, ou pipocas. Um videogame perverso que produz uma geração de raquíticos mais perversos ainda.
Okay, okay, eu me entrego: - Batatas fritas! Calcinha Exocet! Menina Veneno! Maluco Beleza! Strawberry Fields Forever!
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