FUTILIDADE
MASCULINA
Beto
Muniz
"AUMENTE
SEU PÊNIS EM ATÉ SETE CENTÍMETROS"
Oi, leitor, não se assuste. Apesar da frase acima, posso garantir que esta é uma crônica de família. Confesso que relutei em formar o texto da quinzena a partir de frase tão chula, mas se você estranhou a chamada apelativa numa crônica cujo autor você conhece e, ao menos em tese, gosta, imagine receber uma mensagem de autoria desconhecida e já assim, tão íntima. Pois então, recebo vários correios eletrônicos com a linha de assunto insinuando que tenho o pênis sete centímetros menor que o tamanho ideal. Não! Não vou dizer o tamanho do meu pênis, faça-me o favor! Não subestime meu bom gosto, e este não é o caminho para prender sua atenção e curiosidade até o final do texto. Apenas quis escrever sobre esse assunto porque acho inovadora a proposta da empresa, ou clínica, ou seja lá quem detém a habilidade de fazer pênis crescer (ops! desculpe o trocadilho). Vai pegar essa moda de fazer o homem se apresentar mais produzido para sua parceira. Jamais abro esse tipo de mensagem, porém, confesso, admiro a pessoa que escrachou com os pudores da sociedade e adotou esse tipo de estratégia para 'pegar' o sujeito que tem complexo de miniatura. Sim, acredito que a publicidade funciona. Claro que funciona! A cabeça do indivíduo que tem, digamos, pau pequeno (credo, quanta baixaria numa só crônica, ou seria artigo?) funciona mais ou menos como a de um careca: ele crê em milagres. Historicamente a vaidade feminina é imbatível, mas a realidade é que, em se tratando de suas cabeças, o bicho masculino não mede esforços e fortunas para apresentá-las impecáveis. Só que ninguém tinha direcionado um marketing ao alvo do seu público tão abertamente. No máximo se falou sobre disfunção erétil, mas o comércio em torno do bingolin é muito mais abrangente! Vide prostituição, para perceber apenas uma das possibilidades. No passado, quando as regras e contextos da sociedade não permitiam ofertar um serviço como o oferecido lá na frase inicial, os produtos para embelezamento masculino se restringiam aos tônicos capilares e afins. Capiloton e Trim, eu penso, são os mais famosos, marcaram época. Num segundo escalão de sucesso vem as lâminas de barbear, ou seja, toda e qualquer bugiganga destinada ao consumidor masculino estava diretamente ligada aos seus cabelos e pêlos. É fato! A comédia das enormes mechas de cabelos tapando falhas no cocuruto terminou quando inventaram a moda da máquina zero. Um ou outro individuo ainda insiste nos cabelos laterais devidamente tosados enquanto no tampo faz malabarismos com fios gigantescos, mas no geral são saudosistas que também mantém alguns botões da camisa abertos para mostrar que o peito é cabeludo. O homem moderno não hesita em passar a máquina dois nas laterais e a quatro no tampo quando percebe que seus cabelos estão rareando. Depois de um tempo troca as duas máquinas pela de número zero e pronto! Tá resolvido o problema. Sei disso porque sou um adepto das duas máquinas, ainda. O corte baixo fica bonito e já vai acostumando amigos e familiares pro momento (em breve) da tosa zero. Quando a indústria de bugigangas, tônicos e cremes capilares faliu, sobrevivendo apenas o fabricante de máquinas modelo quatro, dois e zero, o contexto também estava em mutação. A sociedade começava a discutir abertamente todos seus tabus e valores sem discriminar raça, credo, idade ou tema, momento ideal para o mercado, esse monstro criativo, atacar o segundo ponto da vaidade masculina. E foi assim que a minha caixa de email começou a receber inúmeras propagandas de serviços insinuando que tenho pênis pequeno. É quase uma agressão, porém, basta diversificar o produto pra essa moda pegar. Tenho deletado esse tipo de mensagem sem abrir, afinal, sem falsa modéstia, seria um despropósito me acrescentar mais sete centímetros. Ao menos se já estivessem oferecendo produtos desenvolvidos para embelezamento da minha parte mais íntima, ou mesmo cerejinhas para apresentá-la como se fosse um sundae... Quem sabe? Nem que fosse só por curiosidade, mas o marketing estaria melhor direcionado e atingiria o público alvo. Ou o alvo diretamente! |