BORBOLETA
William Stutz
Estranha
cena. Uma sala de espera de um escritório, 22º andar, ar condicionado,
muitas janelas, muito vidro.
Silêncio de hospital frieza tal e qual. Pessoas incompreensivelmente absortas em sentimentos indecifráveis, cumprimentos breves com a cabeça e mais nada. Ambiente de competição e de poucos amigos. Cotidiano. Distraído lancei olhar para um grande vaso de plantas num canto da sala. Vi movimento. Curioso me aproximei e para meu espanto, pousada em uma flor vermelha havia uma borboleta. Era uma borboleta comum, nem tão bonita quanto suas primas coloridas das matas, nem tão feia quanto suas outras parentes urbanas bruxas. Era apenas uma borboleta. Claro que se observássemos bem de pertinho, poderíamos notar discretos fios dourados ladeados de azul turquesa em suas asas numa simetria singela mas perfeita. Era uma borboleta vestida para o trabalho e não para uma festa de gala ou uma apresentação de Maurice Béjart no Opéra National de Paris. Fui até a janela e tentei imaginar como esta frágil criatura poderia ali ter chegado. Não haviam praças, quintais em nem simples canteiros lá embaixo. Se uma corrente ar a trouxe, como entrou se as janelas fechadas isolavam o local do mundo de verdade? As pessoas da sala disfarçadamente acompanhavam minhas idas e vindas - vaso janelas - deve ser louco, lia-se em suas expressões. De volta ao vaso desta vez decido a esclarecer este mistério. Meus Deus! A flor é de plástico! Plástico mesmo assim como toda as outras plantas do vaso, no lugar de terra pedras redondas e brancas! A borboleta mesmo assim esta ali e com sua trombinha enrolando e desenrolando parecia se deleitar com um néctar que com certeza ali não havia. Fixei mais uma vez os olhos na pequena, pareceu olhar para todos na sala, um por um, depois me olhou com ternura sorriu, piscou-me o olho e voltou sua atenção para a não-flor. Eu não queria sair dali tive medo de minha não-vida. |