ASAS
QUEBRADAS
Sonia
Lencione
Aquele cacto achara de nascer bem na beira do abismo. Ela sentia desejos de se aproximar e tocar as flores de tão singular planta. Eram lindas e a tentavam. Não costumava apanhar as flores. Só as tocava. Primeiro com os olhos. Depois com o coração, e por fim seus dedos necessitavam sentir a textura. As pétalas em seus dedos. O tato queria conhecer aquela maciez. Seu ser só se contentava quando conseguia sentia a vida pulsando. E a vida estava na natureza, na beleza. Em tudo que tocava seu coração. Ela sentia desejos de acariciar aquelas flores. Não só com os olhos, mas com os dedos. Sabia que jamais conseguiria encarar aquele precipício de pé. Temia altura. Depois de muito pensar numa maneira de até lá chegar achou um jeito de se aproximar. Iria de gatinhas. Pensou nos animais. Estar sobre quatro pés lhe dava mais segurança. Devagarzinho foi se aproximando, aproximando. No meio do caminho sob uma folha, o que vê! Uma borboleta agonizando. Tão linda! Toda dourada e tão brilhante! Olhou-a e a tocou de leve. Pode notar que a pobrezinha estava com as asas quebradas. Penalizou-se tanto e a pegou na mão esquerda tendo todo o cuidado em voltar de marcha a ré sem que ela caísse. Já se esquecera das flores. A borboleta era um assunto urgente demais. Queria curá-la. Mas o que poderia fazer? Não se coloca atadura em lepidópteros. A pobre estava condenada então? Ao vê-la tão linda a sofrer algumas lágrimas começaram a lhe correr. As lágrimas lhe caíam na mão e ensopavam aquelas asas coloridas. À medida que caíam, a frágil borboleta tentava se movimentar. Talvez incomodada com o inesperado banho. As lágrimas insistiam em cair e a pobrezinha tentava um meio de se esquivar. Tentava se secar. Assim se passaram os minutos. De repente a menina deixou de chorar e começou a soprar bem de leve sobre aquelas asas molhadas. Novamente a borboleta tentava de defender do friozinho que a pegava desprevenida. Foi quando se deu conta de que as asas se fortaleciam. Ela tentou um vôo e a menina notou. Então achou um meio de encorajá-la falando baixinho: - Voe minha querida. Você tem os céus para alcançar. Não desista. Suas asas foram feitas para voar. Bom passeio... o mundo é o seu lar. Vá... Depois... bem depois ela ficou a olhar o vôo daquela dourada borboleta em direção às flores de cacto. |