AS BORBOLETAS
Hermann T. Ribeiro

Na minha terra, sul das Minas Gerais, havia uma crendice que, se você tocasse as asas de uma borboleta, os pigmentos saídos da asa da bichinha em contato com os olhos cegariam o seu “algoz”. Sinceramente, até hoje não sei se isto é verdade e se em outras terras pequenas há a mesma crendice. A verdade é que a minha primeira experiência com borboletas ou o meu primeiro contato com elas não foi muito agradável, afinal, ver nestas pequenas beldades um ar terrífico não era nada bom. Para piorar, além de colecionar figurinhas em chapinhas e marcas de cigarro eu resolvi seguir os passos do senhor Dirceu Borboleta. Felizmente, para elas e para mim também, afinal sou um filho da mãe Natureza, a arte de espetá-las com agulhas num mal cortado isopor não durou mais que duas ou três vítimas.

Mas... a minha malfadada história com elas não terminou aí, certo dia, abramos um parêntesis aqui, eu não sei porque cargas d´água, quando a gente é criança, a gente faz tantas experiências com “bizorros”, lagartixas, içás (para quem não conhece, são aquelas formigas bundudas que aqui, no Vale do Paraíba, as pessoas insistem em comer), bom, fechando o parêntesis, o que sei é que foi com este mesmo sentimento estranho que capturei uma pobre coitada, e num tanque cheio de água, eu a fiz passar por uma seção de tortura digna do DOPS, afogando-a e testando sua resistência. A verdade é que a bichinha resistiu e quem não resistiu a tanta resistência fui eu, coloquei-a sobre o muro para que tomasse um longo banho de sol, e depois de ver suas asas secas e meus dedos impregnados com a tal substância “cegadora” eu a vi ir embora, muito provavelmente cuspindo maribondos. Meus dedos ? Eu os lavei imediatamente, afinal, até hoje não sei, como já disse, se a tal crendice é verdadeira ou não.

Bom, o tempo passou, e ela se tornou para mim, com o passar dos anos, símbolo da nova era, símbolo de renascimento, símbolo de transformação, ou seja, ela se tornou símbolo de tantas coisas, coisas estas que até mesmo se contradiziam, mas para mim, ela continuou sendo, apesar de minhas crueldades, um bichinho presente na minha infância e a lembrança de que a sua aparente fragilidade esconde a fortaleza da vida, da mãe Natureza, da presença de Deus dizendo: “Eu não escolho os capacitados, mas capacito os escolhidos”. Amém.

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