ADRIANA A FLOR,
IRINEU A BORBOLETA

Alice Sousa

Suas pétalas eram alaranjadas e ao entardecer com os últimos raios do sol, elas ficavam douradas. No centro ficava o pólen, o mel e as cócegas, sim, era só sentir as patinhas das borboletas e abelhas que ela morria de rir. Adriana não via a hora que fossem embora, era demais. Mas nada era mais terrível que aquelas línguas babentas, outras ressecadas, sentia-se ferida. Porém naquele seu pequeno ciclo de vida ,aparece o Irineu, Borboleta negra e linda, por um instante seus olhos se encontraram e ele delicadamente penetrou-lhe as entranhas em busca de seu néctar, Adriana estremeceu, foi uma sensação única em toda sua breve vida. Ela se sentira fraca quando ainda em botão, tinha medo de ser cortada e jogada ao fogo, mas a partir daquele dia, ela desejava um pouco mais de vida naquela primavera, para poder sentir de novo aquele tesão que foi receber aquela espécie em seu ventre de flor.

Depois que ele apareceu, as abelhas encrenqueiras desapareceram, e apenas algumas pequenas borboletas ainda se atreviam por ali, nas flores menores. De manhã bem cedo ele era o primeiro, enquanto lhe sugava o seio de mel, dizia palavras de carinho, tipo - Você é tão doce na sua simplicidade, que me fascina. Ah! gemia ela de prazer por baixo daquele deus negro.

Nos últimos dias daquela inesquecível primavera, Adriana já não tinha mais quase vida, muito menos mel, ele apareceu para se despedir, ela perguntou se ele voltaria no ano seguinte, foi aí que ele disse que sua vida se acabava ali, que não haveria próxima vez, ele também estava morrendo. Ela soluçou de dor, desespero, ele deixou-se ficar, já não tinha forças para voar, melhor seria findar seus dias ali, perto daquela doce criatura que havia dado tudo dela para que ele fosse feliz.

Em poucos dias apenas pétalas secas e uma Borboleta morta restaram no jardim, o jardineiro parou por alguns instantes ao observar que as patinhas da borboleta continuavam grudadas no miolo da flor seca. Sensível e profundo conhecedor da troca de afeto que havia entre flores e borboletas, catou todas as pétalas do chão, pegou a borboleta delicadamente, largou a vassoura e foi para seu pequeno aposento nos fundos do jardim, e com carinho refez o lindo par romântico e emoldurou, ficou tão lindo e perfeito o resultado que por um instante ele pensou ter visto as asas se mexerem tocando levemente as pétalas da flor, como num íntimo compromisso de AMOR ETERNO, ou simplesmente uma eterna despedida.

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