ARUCUOL
Shirley Kühne
Corro o corredor fétido acinzentado
Não há portas ou vias de escape
Parece um vagão de trem, imenso, infinito, sem janelas
Mas sua locomotiva está em mim chacoalhando-me a cabeça
Tropeço
Levanto às cegas, acelerando mais e mais o passo
Olho pra trás
Alguém ao longe
Não sei quem é, mas está lá
Persigo o cimento frio do corredor......... ele se estreita
O coração martelando como se me quisesse quebrar os ossos do peito
o esterno, tórax...... escapar-me do corpo
livrar-se da angústia de ser
meu prisioneiro!
Prossigo no escuro, mas as paredes aprisionam
O ar não entra o bastante pelas narinas
Paro
Não transponho mais nenhum espaço
Ofegante, volto-me para a outra ponta....
Ouço um rastro lamentoso escorrendo pelo chão
Meu perseguidor se aproxima
Fico imóvel
Como se alguma ferragem me aprisionasse
O vulto chega
Não quero ver
Abaixo a cabeça.... fecho os olhos
O hálito familiar se espalha pela minha fronte
Sua mão encaixa-se perfeita no meu queixo e leva meu rosto junto ao seu
Não quero ver
A luz de seus olhos queimam as pálpebras e tenho que abri-las
Então ela? se mostra
Me reconheço
Eu sujeito
Ela...... reflexo
Uma agulha sai do meu braço
Me sinto morta
Pensam que repouso nesta cama.... a minha cova suspensa de metal branca
colchonete-caixão encapado de plástico...... fezes e urina sempre deixam cheiro
Meus dias de internação
Hibernação de mim.
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