Naquele dia,
ela acordou radiante. Cheia de vida. Afinal havia conhecido o seu príncipe
encantado.
Aquele rapaz de olhos claros. Peito robusto e cabeludo. Cheio de sonhos.
Era o primeiro que olhara pra ela, sem segundas intenções. Notara a sua
presença durante uma noite de poesia falada em Niterói. Aplaudira-lhe
de pé.
Pediu-lhe um autógrafo. Olhou-o nos olhos e na íris dele viu refletida
sua imagem, como se os olhos do cara fossem um espelho cristalino e mágico.
E que só refletissem felicidade, paz e alegria. Sentiu um nó no estômago.
Existiria o amor? Seria aquela sensação de vazio, misturada com euforia,
o sinal que ela procurava e esperava há tempos? Viagem do pensamento...
Êxtase do momento.
Passarinhos cantando ao seu redor... Viu anjos... Arcanjos... Pensou que
havia chegado ao paraíso! Tamanha emoção, mais que magia!!! Onde estava
o sentido? Tudo isso era preciso? Ela... Logo ela, uma louca desvairada,
destemperada... Cheia de mágoas!!! Relacionamentos difíceis.... Incrivelmente
e inexplicavelmente extintos... Como se não fosse nada... Pó, sem valor,
vazia, vadia e sem amor!!! Cadê os homens? Os cavalheiros???
Sonhou com Dom Quixote, derrubando moinhos pra lhe fazer feliz, correndo
atrás de inimigos imaginários pra lhe ter sua, somente sua, sua doce princesa.
Quando já estava a divagar em lamentações sem nexo e sem fim. Eis que
surge no espelho retrovisor de seu carro o tal homem de olhos azuis. Sim
ele, e parecia ter vindo do nada. Espectro do espelho, figura especialmente
desenhada em seus mais belos sonhos!!! O tal, o maioral!!! Era ele sim!!!
Quanta felicidade!!!
Agora, era hora de venerá-lo, de amá-lo, de dar tudo de si por aquele
Deus da terra, do infinito, do céu, dos sonhos seus!!!
Olhou-o, sorriu pra ele!!! Abraçou-lhe... Beijou-lhe... Fez amor! O amor
mais leve, simples, espantoso e gostoso que poderia imaginar!!! Quanta
felicidade!!! Que loucura!!! Era tudo que ela queria!!! Era mais, muito
mais do que merecia!!!
Para sua decepção, de repente acordou abraçada com aquele espelho. Sim,
o mesmo espelho velho que o seu amor lhe dera antes de partir... Paixão
refletida num prisma sem vida... Ah, se ele soubesse do seu amor!
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