NOSSO AZUL
Márcia Ribeiro

Depois de tanto tempo minha resistência foi vencida. Os nossos amigos estão aqui e a casa está em festa com os sorrisos que se espalham em cada canto. 

Há um murmurar tão antigo que eu nem entendo mais. Nestas ocasiões lembro sempre do Natal, pois nossa casa parece mesmo uma árvore com todas as lâmpadas acesas.

As horas avançam contra minha vontade, já que os ponteiros seguem na direção oposta ao meu desejo.

Não entendo e nem aceito essa mórbida vontade de todos para que tudo pareça ser como antes. 

Não entendem? Não sentem que já houve a transformação? Não percebem que quando falta uma peça do xadrez, não há mais sentido continuar no mesmo jogo?

Talvez não possam mesmo notar a grande diferença. Mas eu posso e sinto aqui dentro, aonde ninguém mais pode alcançar.

Agora é o momento das longas e intermináveis histórias de cada um. Tento me concentrar, mas só consigo me dedicar à razão da falta de harmonia entre minha presença e o que acontece à minha volta.

Deparo-me com alguém tomando conta do meu olhar e descobrindo que não faço mais parte de tudo isso. É um olhar amigo, que se mostra cúmplice no sorriso aberto, me convidando a voltar.

Mas eu não posso, eu não quero mais voltar.

Quero ficar aqui, olhando o céu e relembrando o som da tua voz quando, entre juras de amor, me confidenciastes:

- Quando eu partir e tiver a certeza de que não vou mais estar em seus braços, descobrirei que a cor do céu é azul-solidão.

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