BATEN KAITOS
Eduardo Prearo

Pobre de quem me quis e só me encontrou agora, depois de uns quinze anos, calvo, grisalho e sem aquela individualidade desejada. Nestes tempos de mistifório, costuma-se atrair para conversinhas, muita e muita vez, pessoas que se vendem por um prato de lentilha. Não deu ainda pra crer que se aproximar de mim seja deitar num leito de procusto. O homens levantam seus pesos bem pesados enquanto faço yoga e planejo ter moto; não são de meia-idade, são jovens. Não estou crendo que alguém aos cinquenta possa se tornar um halterofilista, mas, afinal, nada é impossível. Os valores intrínsecos de cada um são mais importantes do que um monte de músculos desenvolvidos?

Não acredito que quem nasceu sob o domínio de Baten Kaitos seja alguém forte, másculo. Mas acontece que o mundo é aparência, e dizer que ela é algo bem significativo parece errado hoje em dia, quando muitos estão por aí, dizendo que estão se espiritualizando. Estamos num mundo de matéria, nos materializamos, não possuo alas, aquelas alas imensas que me possibilitariam voar. Ou possuo? Mas os que nasceram sob o domínio de Baten Kaitos talvez não sejam lá muito belos, talvez sejam feios, donos de uma feiúra que até se torna bela dependendo do ambiente, da iluminação. Nenhuma crítica pode ser tomada como real quando ouvida pelas costas... isso se classifica como alucinação. Agora, quando é direta, face a face, aí a história já é outra, aí iremos conversar, aí a pessoa vítima da crítica é mais sadia, portanto digna de consideração. Não é assim e sempre será? Normalmente as críticas da população estão relacionadas à sexualidade ou ao tabaco, isso é algo óbvio. É olhar e dizer, é simples, é humano. Verbalizo meus pensamentos, não sei fazer de outra forma, penso verbalizando, não penso de uma forma rápida, mais rápida que a velocidade da luz. Mas continuo verbalizando meus pensamentos em minha mente e não sei até quando. Não se deve ligar para o que os outros dizem, para o que eu talvez diga...é, não liguem. Sabe aquela brincadeira de ver a pessoa alterada e já ir dizendo um "Oh,rezem!" interessante? É isso, rezem. Dizem que a reza ajuda. É só uma dica... mas não levem muito a sério, afinal, pra quem entende muito bem a natureza humana, nem reza é necessário.

A cor de Baten Kaitos, a estrela, é o negro. Penso que a cor dela é o negro, e isso não é nenhum segredo finíssimo; o fato é que dei uma cor a essa estrela e a cor que dei a ela foi o negro. Mas me disseram que a verdadeira cor dessa estrela, assim como cada planeta tem uma cor nestes assuntos de horoscopia, é o azul, o azul-cobalto pra ser mais exato. Não sei se gosto dessa cor, do azul. Não penso muito nessa cor. Mas se é a cor verdadeira de Baten Kaitos, então passarei a pensar, passarei a visualizar uma esfera azul por aqui. Não que me verei azul como uma raça nova, não é isso.

O que tenho ouvido quase todos os dias, Baten, é que diante de certas dificuldades, seria melhor eu voltar pra casa de papai e mamãe. Isso as pessoas me falam, inclusive empregadores. Aí penso na individualidade, na força que preciso ter para conseguir independência, e que não precisa ser extraterrena. Sinto-me um idiota por querer ser cada vez mais independente, ainda mais agora com essa meia-idade, por querer muito ter um apartamento meu. É, nesses tempos de mistifório, nem sei mais o que pensar. Diz-se que muita gente está passando necessidade, mas o trânsito está mais lento. 

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