PAUSA
Ana Terra
O azul tomou conta da manhã. Está no céu, na minha saia, nos seus olhos. Muita claridade. Será que é este o dia para definir sentimentos?
Na madrugada não encontrei resposta no céu nublado. Apenas sensações que não a certeza de nada.
Mas hoje... sinto o momento. Tudo está colorido, cheiroso e azul.
Poesia e loucura no ar. Na boca, algo mastigado e não engolido.
Na mesa de um restaurante qualquer, um prato com salada de tomates vermelhos, finamente cortados.
O azul de seus olhos está atento na comida. Para quebrar o silêncio, digo algo qualquer.
Você me olha. Por um segundo, sinto minha alma azul. Em seguida, uma névoa dificulta minha visão.
Sinto sua tentativa em encontrar um lugar onde fixar seus olhos. Sem saber o que fazer, você me oferece a salada de tomates. Recuso. Acabei de ver uma fresta de sua alma que me alimentou inteira.
Há momentos em que me revolto com a falta de racionalidade, apesar de amar a loucura. Tenho vontade de comer um tomate inteiro, sem tempero algum. Sentir o gosto do nada.
No peito, a sensação de algo inacabado. Uma pintura, uma crônica, uma escultura. Uma beliscada na alma abandonada pelo azul.
Entro no carro. Passo por um túnel amarelado. Sinto asco da cor atrevida.
Sei que o azul da manhã está próximo. Ao alcancá-lo, sinto a diferença. O brilho perdeu um pouco de sua intensidade. Só minha saia continua com o mesmo tom.
Seria o azul a cor da pausa?
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