AMOR EM PEDAÇOS
Alberto Carmo
Num tempo de amores cinzas, de ciúmes virtuais, de perenes cismas e gritos banais, como a linha tênue dos arraiais, onde encontrar o olhar sereno de ternos casais? Nesta época de amores rápidos e vozes telúricas, de olhares tépidos, onde chegar a um porto de brando cais?
Rogamos pelo mais breve surgimento de apoteótico amor lento e cinematográfico. E se custa a chegar, custa impulso, custa carinho, custa esperança onde aportar - custe o que custar!
Porque o amor não é cibernético, nem caótico. É antes um chegar epilético de alguém que surge elétrico num turbilhão de penumbra semiótica. É um saber eclético de confiança impura e olhares de loucura agiota. É hidróxido, ácido, base do gozo num corpo de salmoura elétrica.
É um confiar exótico num mar de doçura magnética. Um silenciar hermético que não teme a brandura atlética. Loucos, que vêem microscópicos sinais de ternura. Tontos de sono nos píncaros de noturna candura. Quem arrisca um piscar de olhos nessa vida dura?
É histórica, lenta e nervosa a procura. Uma paciência eterna de vagalhão. É um tiro na escuridão. Uma lâmina afiada que aponta lápis, egoísmo, facada e subtração. É colapso, um choro de corrosão.
Amor é chama interna, luz intensa e eterna de um torvelinho no porão. É briga de irmão, é doença. Intriga de sogra, donde nada sobra além da imensidão. Amor é crença, é puro como limão. É seguro, como vôo noturno no furacão.
Pedaços de um amor elástico, que recolho em teus icebergues plásticos, que me acolhem no dorso do teu seio terno, temporão.
Amor é sul, é azul, revoada de pombos antárticos, ou não?
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