MARINA
Suzana Garcia
Helena, minha doce e amada Helena.
È claro que não era Helena, mas depois de acordar dentro de Buick preto, não sabia exatamente onde, com quem e o que eu estava fazendo.
Refiz-me, após uma dose de vodka, e perguntei onde estava e quem era a bela jovem à minha frente.
Milena identificou-se como irmã de Helena, vejam só , daí o fato de termos nos encontrado no túmulo de Helena e ela ter chorado tanto.
Podia imaginar tudo, tudo mesmo, menos que Helena tivesse uma irmã gêmea.
Já refeito do choque, acomodei-me num sofá gelo, com outra dose de vodka e preparei-me para ouvir o que Milena teria a me contar...
“ Helena /Milena tinham 38 e não 40 como estava na lápide, nasceram no Rio de Janeiro e
lá cresceram, estudaram e Helena casou-se.
Não casou bem, ou melhor, estava tão encantada com toda atenção, tantos presentes e viagens que fazia com Fernando que nunca conseguiu perceber suas atividades escusas.
Menescal era um poderoso chefe de tráfego de drogas, com ligação direta com a Colômbia e Fernando seu “ braço direito ”.
Helena viveu dez anos com Fernando, entre Paris, Milão,Espanha e Brasil.
Sua casa de veraneio era na Grécia e sempre que Fernando precisava “ viajar a negócios”
literalmente “ despachava” Helena para Grécia.”
Janeiro,Fevereiro,Março,Abril...Setembro e Fernando não voltava.Helena sozinha e sem saber o que fazer, recebe numa manhã um envelope.Nele, uma chave e um bilhete.
Helena já com olhos marejados lê o bilhete.
< Querida Helena, se eu não voltar em três meses, vá até Milão e retire do cofre do Banco
uma agenda vermelha,nela estão todos os números das contas bancárias do grupo. Transfira
todos os valores para sua conta em Paris.
Compre uma casa no México e fique lá.
Te amo.
Fernando >
Helena obedeceu quase todos os pedidos de Fernando, exceto ir morar no México.Certa de estar segura, mudou de nome, seu nome verdadeiro era Marina, de cidade e inocentemente a cor do cabelo.
Mas a grande família do tráfego buscava incessantemente o dinheiro do grupo.Eram milhões e milhões de dólares!
Acharam Marina, mas não o dinheiro.
Dei um pulo do sofá e gritei para Milena, que ela, agora, precisava tomar muito cuidado, tinha que sair do Brasil, a grande família não poderia saber de sua existência,naturalmente pensariam que ela saberia onde estavam tantos dólares!
Milena afirmou-me que não sabia de nada e que se toda essa história fosse verdade, ela não sairia do Brasil enquanto não achasse as anotações de Fernando.
Milena e eu voltamos ao apartamento de Marina.
Revistamos tudo, cada canto, cada gaveta, cada fresta e nada.
Pense Milena, pense, dizia eu. Ninguém melhor do que você conhecia Marina.
Pense.
Onde ela guardaria tal relíquia?
Marina num sobressalto, puxou-me pela mão e saímos do apartamento, entramos no Buick preto e viajamos por mais de 6 horas.
Em Parati, no meio da Serra , uma casa simples, de madeira, com floreiras na janela.
Quase de boneca.
Um recanto , um esconderijo.
Um acalanto para os momentos de tristeza e depressão.
Era ali que Marina se escondia.
Ficamos por lá uma semana e eu, não sei bem ao certo se por lembranças de Helena ou semelhanças no jeito de ser, estava me rendendo aos trejeitos de Marina.
Flagrei-me fazendo o café e colocando uma flor silvestre, vermelha, num solitário e acordando Marina.
Flagrei-me atrás da porta, observando por entre as frestas da porta, sua silhueta.
Perfeita.
Pele alva, formas e curvas acentuadas. Cabelos lisos e negros.
Rendi-me a tanta beleza.
Estava apaixonado por Marina.
Estava apavorado.
Havia perdido Marina e não queria perder Milena.
Numa manhã fria, ao procurar um livro na estante, puxei uma obra de Drumont e um pequeno caderno vermelho caiu no chão.
Ao folheá-lo, logo identifiquei tratar-se das anotações de Fernando, eram números e mais números seguidos de nomes.
O caderno de contas da grande família.
Marina já poderia sair do país.
Quanto a mim, ficaria sozinho novamente.
Acordei Marina balançando o caderninho em minhas mãos , ela sorriu, nos abraçamos e o inevitável aconteceu.
Nos amamos muito.
Deixei-a no aeroporto quatro horas depois com a certeza que meu destino era o de ficar só.
Rendi-me à solidão.
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