ETERNAMENTE
SUA...
Sonia Lencione
— Por que corre, se sabe que sempre lhe
alcanço?
— Porque gosto de correr. Porque gosto de ser alcançada.
— Maria Helena, você está tão bonita hoje.
— Eu sei...
— Convencida!
— Você vive a dizer que sou bonita...
— E você vive se pavoneando.
— Bobo!
— Eu amo você.
— Eu também amo você.
Paulo a olha e algo vêm lhe dizer que um dia no futuro sofrerão, mas ela vive
a lhe dizer que virão outros tempos para os dois.
— Vai me amar para sempre Paulo?
— O que é sempre?
— É o infinito. É o que ultrapassa o tempo.
Ela insiste em falar do tempo:
— Acha que o tempo está a nosso favor meu querido?
— Não. Ele é contra nós. Vai chover.
— Não falo deste tempo.
— Eu sei que não.
Claro que ele sabe que ela fala das possibilidades e elas não existem. O amor
que os une é algo impossível.
— Eles nunca permitirão. Sou um pobretão, sem classe social, sem status. Sou
um João-ninguém.
— Você é o homem que eu amo.
— Não poderá ser minha.
— Já sou sua e vou ser para sempre sua. A ninguém pertencerá minha alma. Só
a você.
Ele a puxa de encontro ao peito e a moça oferece os lábios entreabertos.
Beijam-se longamente e ela sussurra em seu ouvido:
— Sou eternamente sua...
— E quando nosso tempo acabar?
— Virão outros. Em cada um deles nos reencontraremos.
— Se nos cruzarmos pelas calçadas nos reconheceremos?
— Claro Paulo! Eu sempre saberei que é você. Quando entrar de novo em minha
vida eu saberei.
— Como?
— Você faz parte de mim...
— Como saberá que sou eu?
— Eu sentirei a sua presença. Saberei, claro que saberei. Sentirei.
— E se tivermos vidas diferentes, se tivermos compromissos com o presente?
— Arranjaremos uma maneira de viver num mundo só nosso.
— E existe este mundo?
— Existe. E nós já estivemos juntos anteriormente.
— Quando?
— Num passado distante.
— Fomos felizes?
— E infelizes também...
— Por que infelizes?
— Porque a vida nos separou.
— Como vai nos separar daqui algum tempo.
— Não quero me separar de você.
Ele sofre e a puxa para si. Consola-o um pouco saber que se encontrarão em
outros tempos. A eternidade saberá guardar para sempre o amor que os une.
— Nunca nos esqueceremos.
— É uma promessa?
— Uma promessa que já fizemos Paulo.
— Como sabe?
— Eu sei. Como sei que agora vou correr mais um pouco. Tchau meu amor.
Ele a olha afastando-se...
Um dia ela sairá para sempre de sua vida. Desta sua vida... é o que ela diz.
Um dia se reencontrarão. E o amor será o mesmo? Esqueceu de perguntar. Claro
que não se modificará um sentimento destes.
Sempre serão um do outro. Sempre... e o amor sempre será o mesmo.
E se recordarão do nome que usavam em outra vida?
Isso ela nunca lhe disse.
— Dona Sabe-tudo, volte aqui... preciso saber.
Tarde demais. A chuva se aproxima.
Maria Helena toma a direção da casa grande, a mãe já deve estar preocupada
com sua demora.
E ele toma a direção oposta.
Outro dia se lembrará de perguntar...
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